Pensador inglês via na mente da criança uma tela em branco que o professor deveria preencher, fornecendo informações e vivências.
Biografia:
John Locke nasceu
em Wrington, no sudoeste da Inglaterra, em 1632. Aos 20 anos, entrou
para a Universidade de Oxford, onde orientou os estudos para as ciências
naturais e a medicina. Em 1666, numa visita a Oxford, o lorde Anthony
Ashley-Cooper, futuro conde de Shaftesbury, precisou de cuidados médicos
e foi atendido por Locke. No ano seguinte, ele se tornou conselheiro do
lorde para questões de saúde, política e economia. Por influência de
Ashley, Locke ajudou a elaborar a Constituição do estado norteamericano
da Carolina. Depois de uma temporada na França, o filósofo foi chamado
por Ashley a assumir um cargo de conselheiro no governo do rei Carlos
II. Uma reviravolta política afastou ambos do poder. Perseguido, Locke
se refugiou na Holanda. Com a Revolução Gloriosa na Inglaterra, voltou
na comitiva do novo rei, Guilherme de Orange. Em seus últimos anos,
viveu no campo, perto de Oates, e foi mentor intelectual do Partido
Liberal. Morreu de causas naturais em 1704.
O triunfo liberal sobre o poder absoluto
Alegoria do desembarque de Guilherme de Orange na Inglaterra: vitória da burguesia.
A volta de Locke à Inglaterra, em 1688, na comitiva do novo rei, Guilherme de Orange, teve um forte aspecto simbólico. Significou o triunfo das idéias liberais do filósofo a respeito da organização do Estado e a consolidação do poder político da burguesia. Guilherme de Orange desembarcou no país com o propósito de recorrer às armas contra o rei Jaime II, que acabou fugindo para a França. O monarca, católico e impopular, havia atraído o descontentamento da cúpula da Igreja Anglicana, que articulou o retorno do futuro soberano. O episódio, que passou para a história como Revolução Gloriosa, foi na verdade uma transição pacífica, mas significou uma mudança profunda no sistema político, antes baseado no poder absoluto do rei. Assim que assumiu, Guilherme de Orange convocou um Parlamento. A nova casa legislativa publicou uma declaração de direitos, inaugurando a monarquia constitucional, que, atualizada, vigora até hoje no país. A deposição de um rei por descontentamento popular foi ao encontro das idéias que Locke expôs no Segundo Tratado sobre o Governo. Na obra, o filósofo defende que a administração do Estado se sustenta num pacto social entre o rei e o povo, tendo em vista o bem-comum. Se os interesses do povo são contrariados, justifica-se a deposição do monarca. Locke, para relativizar o poder do trono, argumentava que todos os cidadãos têm o direito natural à liberdade e à propriedade, ainda que, no último caso, excluísse, na prática, aqueles que vendiam sua força de trabalho aos donos de terras.
Guia para a formação do cavalheiro
Retrato de um típico gentleman do século18: educação para a virtude e as boas maneiras.
No livro Alguns Pensamentos Referentes à Educação, Locke afirma que
"é possível levar, facilmente, a alma das crianças numa ou noutra
direção, como a água". Formar um aluno, sob o aspecto intelectual ou
moral, seria exclusivamente um resultado do trabalho
das pessoas que os educam - pais e professores, a quem caberia
sobretudo dar o exemplo de como pensar e se comportar, treinando a
criança para agir adequadamente. O aprendizado deveria ser feito por
meio de atividades. A idéia era que a criança, pelo hábito, acabaria por
entender o que está fazendo. Para Locke, a educação ideal seria
promovida em casa, por um preceptor, papel que ele próprio desempenhou
para os filhos de alguns amigos. "Locke pensou somente nos homens
burgueses, destinados a ser os novos governantes, pois acreditava que
por intermédio do exemplo dado por eles seriam educados os demais", diz
Clenio Lago. A conduta e a ética do gentleman (o cavalheiro burguês),
incluindo as boas maneiras, tinham prioridade sobre a instrução. A saúde
e o controle do corpo também ganharam destaque porque Locke preconizava
certo endurecimento físico para facilitar a autodisciplina e o domínio
das paixões.
Treino para a razão
É por
isso que, para Locke, o aprendizado depende primordialmente das
informações e vivências às quais a criança é submetida e que ela absorve
de modo relativamente previsível e passivo. É, portanto, um aprendizado
de fora para dentro, ao contrário do que defenderam alguns pensadores
de linha idealista, como o suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e
Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), e a maioria dos teóricos da
educação contemporâneos.
"A concepção construtivista, por
exemplo, institui-se com base na relação entre sujeito e objeto,
enquanto a visão lockiana enfatiza apenas o objeto", explica Lago.
Embora considerasse que a origem de todas as idéias estava fora do
indivíduo, Locke via a capacidade de entendimento como inata e variável
de pessoa para pessoa.
Os dois fundamentos iniciais de sua obra
mais importante, Ensaio sobre o Entendimento Humano, são a negação da
existência de idéias inatas - o que contrariava o legado do filósofo
mais influente da época, o francês René Descartes (1596-1650) - e o
princípio de que todas as idéias nascem da experiência, refundando, na
ciência moderna, o empirismo. Ao combater o inatismo, Locke se opunha às
correntes de pensamento que encontravam no ser humano a idéia natural
de Deus e noções de moral ou bondade intrínsecas. Tudo isso seria
atingido apenas pela razão. Os princípios morais derivariam de
considerações a respeito do que é vantajoso para o indivíduo e para a
coletividade.
A educação ganhava, desse modo, importância
incontornável na formação da criança, uma vez que, sozinha, ela se
encontra desprovida de matéria-prima para o raciocínio e sem orientação
para adquiri-lo, estando fadada ao egocentrismo e à ignorância moral.
Apesar do valor que dava à racionalidade, Locke era cético quanto ao
alcance da compreensão da mente. O objetivo de sua obra principal foi
tentar determinar quais são os mecanismos e os limites da capacidade de
apreensão do mundo pelo homem. Segundo o filósofo, como todo
conhecimento advém, em última instância, dos sentidos, só se pode captar
as coisas e os fenômenos em sua superfície, sendo impossível chegar a
suas causas primordiais. Do material fornecido pelos sentidos nasceriam
as idéias simples que, combinadas, formariam as mais complexas. O
conhecimento não passaria de "concordância ou discordância entre as
idéias".
Para Locke, as crianças não são dotadas de motivação
natural para o aprendizado. É necessário oferecer o conhecimento a elas
de modo convidativo - mediante jogos, por exemplo. E, embora desse
primazia teórica às sensações, não via nelas função didática: educar com
prêmios e punições (para provocar prazer e mal-estar) seria manter os
pequenos no estágio
mais primário do entendimento humano. Levá-los a pensar faria com que
rompessem a dependência dos sentidos. Embora não descartasse a
possibilidade de castigos, inclusive corporais, Locke afirmava que seu
uso poderia fazer com que as crianças se tornassem adultos frágeis e
medrosos.
John Locke, um explorador do entendimento humano
A influência do inglês John Locke (1632-1704) costuma ser separada em
três grandes áreas. Na política, ele foi o pai do liberalismo como o
conhecemos hoje: é o autor de dois tratados de governo que sustentaram a
implantação da monarquia parlamentarista na Inglaterra, inspiraram a
Constituição dos Estados Unidos e anteciparam as idéias dos iluministas
franceses. Na filosofia, construiu uma teoria do conhecimento inovadora,
que investigou o modo como a mente capta e traduz o mundo exterior. Na
educação, compilou uma série de preceitos sobre aprendizado e
desenvolvimento, com base em sua experiência de médico e preceptor, que
teve grande repercussão nas classes emergentes de seu tempo.
Mas essas três vertentes não são estanques. A grande e
duradoura importância de Locke para a história do pensamento está no
entrecruzamento de suas áreas de estudo. Assim, a defesa da liberdade
individual, que ocupa lugar central na doutrina política lockiana,
encontra correspondência na prioridade que ele confere, no campo da
educação, ao desenvolvimento de um pensamento próprio pela criança.
E suas investigações sobre o conhecimento o levaram a conceber um aprendizado coerente com sua mais famosa afirmação: a mente humana é tabula rasa, expressão latina análoga à idéia de uma tela em branco. "A razão, inicialmente, encontra-se apenas em potência na criança", diz Clenio Lago, da Universidade do Oeste de Santa Catarina.
E suas investigações sobre o conhecimento o levaram a conceber um aprendizado coerente com sua mais famosa afirmação: a mente humana é tabula rasa, expressão latina análoga à idéia de uma tela em branco. "A razão, inicialmente, encontra-se apenas em potência na criança", diz Clenio Lago, da Universidade do Oeste de Santa Catarina.
Para pensar
Locke
acreditava que as crianças vêm ao mundo sem nenhum conhecimento, mas já
trazendo inclinações e principalmente um temperamento. O educador
deveria observar as características emocionais do aluno para submetê-lo a
diferentes métodos de aprendizado. Mesmo que as concepções de
conhecimento do filósofo estejam parcialmente ultrapassadas, essa é uma
recomendação que ainda pode ser levada em conta. Você, como professor,
costuma observar e analisar o temperamento de seus alunos?
Quer saber mais?
História da Educação e da Pedagogia, Lorenzo Luzuriaga, 312 págs., Cia. Ed. Nacional,
tel. (11) 2799-7999, 44,90 reais
John Locke, coleção Os Pensadores, 320 págs., Ed. Nova Cultural, tel. (11) 3039-0933 (edição esgotada)
Locke e a Educação, Clenio Lago, 130 págs., Ed. Argos, tel. (49) 3321-8218, 21,20 reais
tel. (11) 2799-7999, 44,90 reais
John Locke, coleção Os Pensadores, 320 págs., Ed. Nova Cultural, tel. (11) 3039-0933 (edição esgotada)
Locke e a Educação, Clenio Lago, 130 págs., Ed. Argos, tel. (49) 3321-8218, 21,20 reais
http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/explorador-entendimento-humano-423338.shtml?page=3
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