terça-feira, 18 de junho de 2013

Pequenos artistas

Chega de casinhas com chaminés. A criatividade aparece quando você investe no trabalho com desenhos na creche e na pré-escola.

 

Foto: Gilvan Barreto

Foto: Gilvan Barreto
Quando eu tinha 15 anos, sabia desenhar como Rafael, mas precisei de uma vida inteira para aprender a desenhar como as crianças." A frase do artista espanhol Pablo Picasso (1881-1973) - referindo-se ao pintor renascentista Rafael Sanzio (1483-1520) - demonstra a importância de valorizar a riqueza artística nata dos pequenos. "É comum a idéia de que o desenho é uma ação espontânea da criança e que, portanto, não precisa ser desenvolvido", afirma a psicóloga Mônica Cintrão, da Universidade Paulista, em São Paulo. Num outro extremo está o uso de figuras infantilizadas produzidas por adultos, como elefantes com lacinhos, reduzindo o aprendizado em Artes a atividades de colorir.

O resultado dessa prática aparece desde o início do Ensino Fundamental. Muitas crianças afirmam que não sabem desenhar. Na hora da atividade, apresentam trabalhos estereotipados, traçando casinhas com chaminé e árvore no jardim, montanha com sol poente, gaivotas e homens-palito. Esses mesmos desenhos vão segui-las pela vida toda.
No livro Arte na Sala de Aula, Rosa Iavelbeg, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, aponta que os desenhistas têm idéias próprias sobre o que fazer e são elas que regem suas ações e interpretações. O desenho não é simplesmente a representação do mundo visível, mas uma linguagem com características próprias, que envolve decisões individuais e de culturas coletivas. "Ao ter isso em mente, o professor evita enquadrar os estudantes em visões parciais e deformadas sobre os atos de desenhar e de ler desenhos."

Quando o desenho é desenvolvido na Educação Infantil (leia o quadro nesta página), não ocorre o empobrecimento do grafismo, que, de acordo com alguns autores, se dá a partir dos 9 anos. O "cultivo" envolve informação e intervenção do professor e a interação do aluno com a produção dos colegas, com o meio natural e cultural e com a prática de artistas.

Atividades desse tipo têm lugar no Centro de Educação Infantil Gente Miúda, em Curitiba, e na EMEI Papa João Paulo II e no Instituto de Educação Santiago de Compostela, ambos em São Paulo. A professora Rosângela Barbosa Ferreira de Medeiros, da João Paulo II, planeja seu trabalho de forma que os alunos desconstruam o mito de que não sabem desenhar. "Quero que valorizem suas idéias e que não se submetam ao desenho figurativo só para agradar ao adulto."

De acordo com Rosa Iavelberg, cabe ao professor articular as práticas das crianças ao valor da arte na vida e na sociedade, às técnicas existentes e ao conceito de desenho. Para isso, Mônica Cintrão defende a importância de conhecer as transformações do desenho infantil (leia o item As etapas do grafismo). Essas informações ajudam a avaliar e a planejar as intervenções que devem ser feitas durante todo o ano letivo.

Diferentes materiais

Foto: Gilvan Barreto
Foto: Gilvan Barreto
Para agir de forma produtiva, o professor precisa ter consciência sobre o que os pequenos devem aprender. Assim, pode se guiar pelas fases dos desenhos e pelas práticas criativas das crianças. Para começar, é importante ampliar o conceito de desenho. "Ele não é uma linha de contorno que representa um objeto. É ação sobre uma superfície que produz algo para ser visto", explica Rosa.

Durante as aulas, é preciso criar constantemente situações em que a criança desenhe sobre o tema que quiser e experimente vários materiais - lápis, tinta, giz de cera, carvão - e diversos suportes - papel, chão, areia, parede...

A avaliação dos trabalhos também vai determinar a evolução das futuras produções artísiticas. Por isso, é necessário valorizar o desenho de todos e dialogar com os alunos sem impor o juízo estético adulto. Perguntar "o que é isso?" aos pequenos ou pedir que eles contem a história do desenho não é recomendável. "Isso induz a criança a tentar interpretar o desenho e a dar nome a traços que não foram feitos com a preocupação de serem nomeados. É preferível pedir que a criança fale do seu trabalho", diz Rosa.

Guarde as produções de cada estudante numa pasta e retome-as depois numa roda de apreciação. "Não importa se faz tempo que o desenho foi produzido. Mostrá-lo cria referência de que ele foi feito por alguém e pertence a um conjunto de obras", explica Rosa. Tudo isso contribui para a turma deslanchar e começar a elaborar traços mais criativos e bem compostos. Para que o trabalho tenha sucesso, é importante envolver os pais. É comum eles quererem ver as tais figuras desenhadas por adultos e coloridas pelos filhos na pasta de atividades no final do bimestre. Por isso, na próxima reunião, explique a importância do desenvolvimento criativo.

Mundo colorido

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Crianças de 4 anos geralmente já têm noção de espaço e desenham dentro do limite da folha, mas ainda não estabelecem uma escala de tamanho nem conhecem bem as cores. Uma árvore inteira pode ser pintada de verde e ser do tamanho de uma flor.

Para que os pequenos ampliem seu universo pictórico e percebam a diversidade de tons, formas e tamanhos, Nilciane Azamor Souza, professora da escola Gente Miúda, os leva para o parque. "Peço que prestem atenção nos detalhes das folhas, das flores, do tronco e da raiz e no tamanho da árvore em relação a outras plantas." Em classe, ela sugere que eles lembrem do que foi visto e pintem com guache e pincel.

Isso estimula a capacidade de reproduzir o que viram e permite perceber que o material e o suporte influenciam o desenho.

O que se vê

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Estimulada pela professora Rosângela, a turma de 5 anos da Escola Papa João Paulo II desenvolve a percepção eo desenho dos detalhes do rosto. Tocando-se, os pequenos vão percebendo a textura dos cílios, o contorno da boca, o traçado das sobrancelhas e as curvas das orelhas. Eles também observam a própria imagem no espelho e capricham nos detalhes ao desenhar cada uma dessas partes do rosto. Na hora de fazer o desenho de observação, um colega vira modelo ao se colocar dentro de uma moldura. Atento à representação que os colegas fazem dele, alerta que está faltando a orelha, que seu nariz não é assim etc. Um intervém no desenho do outro e, nessa troca, todos aprendem.
Teoria
As etapas do grafismo*
As fases a seguir se sucedem, mas a idade em que elas se manifestam varia

De 2 a 4 anos - Garatuja
Desordenada - Movimentos amplos e aleatórios que não respeitam o limite da folha.
Ordenada - Os rabiscos seguem o limite do papel.
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Nomeada - Os rabiscos ganham nome: papai, nenê, mamãe.
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
De 4 a 6 anos - Pré-esquema
Boneco girino - Tem início o desenho da figura humana, com braços e pernas que saem da cabeça. Mais adiante, os membros saem do corpo.

Exagero - Não há proporção nem perspectiva. As figuras são grandes ou pequenas demais.

Omissão - Faltam partes do corpo ou do rosto. Um braço pode ser mais comprido que o outro.

Justaposição - As figuras são misturadas na folha, sem linha de base (chão e céu). Não há organização espacial. O sol pode surgir na parte de baixo.
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
*de acordo com Viktor Lowenfeld (1947-1977)

Fonte: Avaliação Escolar do Desenho Infantil: Uma Proposta de critérios Para Análise, tese de Mônica Cintrão
Garatujas

No início do ano, as turmas da escola Santiago de Compostela que completam 2 anos no período letivo desenham garatujas desordenadas e rabiscos aleatórios que extrapolam o limite do papel. Todos os dias, durante dois meses, a professora Beatriz Massini Tartalho incentiva a prática do desenho com lápis de cor e grafite, giz de cera e caneta hidrocor. Desenhando e observando o trabalho dos colegas, a criança percebe o limite da folha e ordena as garatujas. "Quando o tema é livre, os pequenos fazem movimentos ampols e desordenados, sem pensar na figura. Se o tema é bicho, eles começam a imaginar uma imagem e desenham formas mais definidas", diz Beatriz. Logo, estão dando nome aos desenhos.

Alimento estético
Foto: Gilvan Barreto
Foto: Gilvan Barreto
A professora Rosângela leva para a sala de aula reproduções de arte de qualidade de diversas épocas e lugares. Escolhe bons artistas, valoriza os contemporâneos e dá preferência às cópias com boa definição. O material fica na caixa de imagens, guardada sobre uma bancada, ao alcance de todos e ao lado de lápis, giz, canetas hidrocor e papéis de vários formatos, tudo separado por cores. Toda semana, ela atualiza o cantinho da apreciação, um cartaz com fotos de rostos recortados de revistas e cartões- postais com obras contemporâneas e auto-retratos de artistas como Vincent van Gogh (1853-1890), Pablo Picasso e Joan Miró (1893-1983). É para lá que as crianças vão sempre que têm vontade ou sentem necessidade de buscar uma referência enquanto desenham.

Arte comentada
Foto: Gilvan Barreto
Foto: Gilvan Barreto
Na roda de apreciação, aparecem descobertas individuais e coletivas sobre a arte que todos estão produzindo. Alguns dias após terem feito um desenho, as crianças da turma da professora Rosângela sentam-se em círculo para explicar o que observaram no próprio trabalho, fazer comentários sobre o desenho dos colegas e relacionar as obras com as figuras que viram na caixa de imagens. A professora dá chance a cada um deles de falar sobre sua produção, sem atribuir valor estético. Assim, todos vão construindo um repertório pictórico.
Aprimorar o desenho...
- Possibilita a expressão pela linguagem pictórica, além da oral e escrita.
- Mostra o valor da arte na vida e na sociedade.
- Evita o empobrecimento gráfico e a produção de trabalhos estereotipados.
Quer saber mais?
CONTATOS
Centro de Educação Infantil Gente Miúda, R. Julia Wanderlei, 1205, 80710-210, Curitiba, PR, tel. (41) 3335-4425
EMEI Papa João Paulo II, R. Paulo Arentino, 870, 02998-140, São Paulo, SP, tel. (11) 3949-6814
Instituto de Educação Santiago de Compostela, R. Luis Molina, 70, 04116-280, São Paulo SP, tel. (11) 5572-0071

BIBLIOGRAFIA
Arte na Sala de Aula - Cadernos da Escola da Vila 1, Zélia Cavalcanti, 80 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 30 reais
Para Gostar de Aprender Arte - Sala de Aula e Formação de Professores, Rosa Iavelberg, 128 págs., Ed.

 

O desenho e o desenvolvimento das crianças

Os rabiscos ganham complexidade conforme os pequenos crescem e, ao mesmo tempo, impulsionam seu desenvolvimento cognitivo e expressivo.

 

Reprodução/Agradecimento Creche Central da Universidade de São Paulo (USP)
"Sabia que eu sei desenhar um cavalo? Ele está fazendo cocô."
"Vou desenhar aqui, que tem espaço vazio."

"O cavalo ficou escondido debaixo disso tudo!" Joana, 3 anos

Reprodução/Agradecimento Creche Central da Universidade de São Paulo (USP)
No início, o que se vê é um emaranhado de linhas, traços leves, pontos e círculos, que, muitas vezes, se sobrepõem em várias demãos. Poucos anos depois, já se verifica uma cena complexa, com edifícios e figuras humanas detalhados. O desenho acompanha o desenvolvimento dos pequenos como uma espécie de radiografia. Nele, vê-se como se relacionam com a realidade e com os elementos de sua cultura e como traduzem essa percepção graficamente.


Toda criança desenha. Pode ser com lápis e papel ou com caco de tijolo na parede. Agir com um riscador sobre um suporte é algo que ela aprende por imitação - ao ver os adultos escrevendo ou os irmãos desenhando, por exemplo. "Com a exploração de movimentos em papéis variados, ela adquire coordenação para desenhar", explica Mirian Celeste Martins, especialista no ensino de arte e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie. A primeira relação da meninada com o desenho se dá, de fato, pelo movimento: o prazer de produzir um traço sobre o papel faz agir.

Os rabiscos realizados pelos menores, denominados garatujas, tiveram o sentido ampliado sob o olhar da pesquisadora norte-americana Rhoda Kellogg, que observou regularidades nessas produções abstratas (veja no topo da página o desenho de Joana, 3 anos, e sua explicação). Observando cerca de 300 mil produções, ela analisou principalmente a forma dos traçados (rabiscos básicos) e a maneira de ocupar o espaço do papel (modelos de implantação) até a entrada da criança no desenho figurativo, o que ocorre por volta dos 4 anos.

No período de produção de garatujas, ocorre uma importante exploração de suportes e instrumentos. A criança experimenta, por exemplo, desenhar nas paredes ou no chão e se interessa pelo efeito de diferentes materiais e formas de manipulá-los, como pressionar o marcador com força e fazer pontinhos. Essa atitude de experimentação tem valor indiscutível na opinião de Rhoda: "Para ela 'ver é crer' e o desenho se desenvolve com base nas observações que a criança realiza sobre sua própria ação gráfica", ressalta Rosa Iavelberg, especialista em desenho e docente da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), no livro O Desenho Cultivado da Criança: Práticas e Formação de Educadores. Esse aprendizado durante a ação é frisado pela artista plástica e estudiosa Edith Derdyk: "O desenho se torna mais expressivo quando existe uma conjunção afinada entre mão, gesto e instrumento, de maneira que, ao desenhar, o pensamento se faz".
De início, a criança desenha pelo prazer de riscar sobre o papel e pesquisa formas de ocupar a folha.
Com o tempo, a criança busca registrar as coisas do mundo

Uma das principais funções do desenho no desenvolvimento infantil é a possibilidade que oferece de representação da realidade. Trazer os objetos vistos no mundo para o papel é uma forma de lidar com os elementos do dia a dia. "Quando a criança veste uma roupa da mãe, admite-se que ela esteja procurando entender o papel da mulher", explica Maria Lúcia Batezat, especialista em Artes Visuais da Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc). "No desenho, ocorre a mesma coisa. A diferença é que ela não usa o corpo, mas a visualidade e a motricidade." Esse processo caracteriza o desenhar como um jogo simbólico (veja abaixo o comentário de Yolanda, 5 anos, sobre seu desenho).
Reprodução/Agradecimento Creche Central da Universidade de São Paulo (USP)
"Esse aqui não é um coelho. Não me diga que é um coelho porque é um boi bebê. Eu estou fazendo uma galinha que foi botar ovo no mato. Quer dizer, uma menina que foi pegar plantas no mato para dar ao marido." Yolanda, 5 anos
Muitos autores se debruçaram sobre as produções gráficas infantis, analisando e organizando-as em fases ou momentos conceituais. Embora trabalhem com concepções diferentes e tenham chegado a classificações diversas, é possível estabelecer pontos em comum entre as evolutivas que estabelecem. Pesquisadores como Georges-Henri Luquet (1876-1965), Viktor Lowenfeld (1903-1960) e Florence de Mèridieu oferecem elementos para a compreensão dos desenhos figurativos das crianças, destacando algumas regularidades nas representações dos objetos.
Desenhar é uma forma de a criança lidar com a realidade que a cerca, representando situações que lhe interessam.
Mais cedo ou mais tarde, todos os pequenos se interessam em registrar no papel algo que seja reconhecido pelos outros. No começo, é comum observar o que se convencionou chamar de boneco girino, uma primeira figura humana constituída por um círculo de onde sai um traço representando o tronco, dois riscos para os braços e outros dois para as pernas. Depois, essa figura incorpora cada vez mais detalhes, conforme a criança refine seu esquema corporal e ganhe repertório imagético ao ver desenhos de sua cultura e dos próprios colegas.
Uma das primeiras pesquisas dos pequenos, assim que entram na figuração, é a relação topológica entre os objetos, como a proximidade e a distância entre eles, a continuidade e a descontinuidade e assim por diante. Em seguida, eles se interessam em registrar tudo o que sabem sobre o modelo ao qual se referem no desenho, e é possível verificar o uso de recursos como a transparência (o bebê visível dentro da barriga mãe, por exemplo) e o rebatimento (a figura vista, ao mesmo tempo, por mais de um ponto de vista). Assim, a criança se aproxima das noções iniciais de perspectiva e escala, estruturando o desenho em uma cena, sem misturar na mesma produção elementos de diferentes contextos (veja abaixo a produção de Anita, 5 anos, que detém essas características).
Reprodução/Agradecimento Creche Central da Universidade de São Paulo (USP)
"Vou desenhar a minha casa. Aqui é o portão e tem uma janela aqui." Anita, 5 anos
"Dá para ver a sua mãe dentro de casa?"
Repórter
"Não, porque a porta parece um espelho. Só daria se a janela estivesse aberta." Anita
O desenho é espontâneo ou é fruto da cultura?

Entre os principais estudiosos, há uma cizânia. Há os que defendem que o desenho é espontâneo e o contato com a cultura visual empobrece as produções, até que a criança se convence de que não sabe desenhar e para de fazê-lo. E há aqueles que depositam justamente no seu repertório visual o desenvolvimento do desenho. Nas discussões atuais, domina a segunda posição. "A única coisa que sabemos ser universal no desenho infantil é a garatuja. Todo o resto depende do contexto cultural", diz Rosa Iavelberg.
Detalhes da figura humana, noções de perspectiva e realismo visual são elementos da evolução do desenho.

Essa perspectiva não admite o empobrecimento do desenho infantil, mas entende que a criança reconhece a forma de representar graficamente sua cultura e deseja aprendê-la. Assim, cai por terra o mito de que ela se afasta dessa prática quando se alfabetiza. "O desenho é uma forma de linguagem que tem seus próprios códigos", diz Mirian Celeste Martins. "Para se aproximar do que ele expressa, é preciso fazer uma escuta atenta enquanto ele é produzido." Para Mirian, a relação entre a aquisição da escrita e a diminuição do desenho ocorre porque a escola dá pouco espaço a este quando a criança se alfabetiza - algo a ser repensado em defesa de nossos desenhistas.

* Os desenhos e os diálogos publicados nesta reportagem são de crianças de 3 a 5 anos da Creche Central da Universidade de São Paulo (USP)
Quer saber mais?
CONTATOS
Edith Derdyk
Maria Lúcia Batezat
Mirian Celeste Martins
Rosa Iavelberg

BIBLIOGRAFIA
O Desenho Cultivado da Criança: Práticas e Formação de Educadores, Rosa Iavelberg, 112 págs., Ed. Zouk, tel. (51) 3024-7554, 23 reais
Tratado de Psicologia Experimental, vol. 8, Paul Fraisse e Jean Piaget, 313 págs., Ed. Forense, tel. (11) 4062-5152 (edição esgotada)

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Pedagogia da Autonomia


Obra: Pedagogia da Autonomia
Autor: Paulo Freire
Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire é um livro de poucas páginas, mas de uma densidade de idéias pouco vista em qualquer outra de suas obras. Este seu poder de síntese demonstra sua maturidade, lucidez e vontade de, com simplicidade, abordar algumas das questões fundamentais para a formação dos educadores(as), de forma objetiva. Pedagogia da Autonomia não é um livro a mais da extensa obra de Paulo. É o livro que sintetiza a sua pedagogia do oprimido e o engrandece como gente. É o livro-testamento de sua presença no mundo. Ofereceu-se nela por inteiro na sua grandeza e inteireza.

Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire em pdf

A importância do desenho na pré-escola



Ensinar a turma a desenhar exige oferecer contato permanente com a produção artística de diferentes lugares e épocas para ampliar o olhar

Foto: Fernanda Sá; Agradecimentos: Chicletaria, Puc e Tyrol

Foto: Fernanda Sá; Agradecimentos: Chicletaria, Puc e Tyrol

Crianças em idade pré-escolar adoram desenhar. Traçam círculos imaginários com canudinhos, usam o dedo para rabiscar o vidro embaçado do carro, fazem cenários na areia. Quando têm acesso ao lápis, então, é uma festa. O desenho é uma das formas de expressar o que sentem e pensam sobre si mesmas e o mundo. "Elas passam a entender melhor suas emoções e a mostrar sua interpretação dos valores, conceitos e normas da sociedade, bem como expressar carinho pelos amigos e familiares", diz a psicopedagoga Mônica Cintrão, da Universidade Paulista (Unip), em São Paulo. Além disso, descobrem que é possível inventar e fantasiar. "Qualquer um pode criar um super-herói", completa Paulo Cheida Sans, professor da Faculdade de Artes Visuais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, no interior paulista.

Mas é possível ensinar a desenhar? Desde o século 19, duas escolas se alternaram no dia-a-dia: a tradicional, segundo a qual as crianças devem copiar modelos, e a renovada, que defende que eles não precisam de orientação. Hoje, o modelo contemporâneo propõe que o melhor é instigá-los a criar partindo do conhecimento do mundo da arte e da cultura visual. É o que os especialistas chamam de "desenho cultivado". No livro O Desenho Cultivado da Criança: Prática e Formação de Educadores, Rosa Iavelberg, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), comenta essas mudanças.

Segundo ela, a escola tradicional pregava que, por não saber desenhar, as crianças precisavam treinar habilidades e cópia para chegar ao referencial de imagens figurativas, cada vez mais próximas da realidade e dos modelos da arte adulta. Nessa época, só havia espaço para a reprodução técnica, marcada pela impessoalidade dos aprendizes, que imitavam formas externas e preconcebidas. Imagens de bichos e objetos também eram apresentadas como atalhos para o ensino de números: a haste de um guarda-chuva virava o 1, a curva do pescoço de um cisne transformava-se no 2. Essas propostas acabaram superadas porque impunham um ponto de vista adulto sobre a aprendizagem sem levar em conta o saber da criança.
Reprodução
Antes e depois, a marca da evolução: desenhos feitos pela pequena Daniela, 4 anos, no início de fevereiro e no fim de março. Reprodução

Desenho espontâneo


Já a escola renovada do século 20, cujos principais estudiosos foram o francês Georges-Henri Luquet, o austríaco Viktor Lowenfeld e a norte-americana Rhoda Kellogg, via na produção infantil uma forma de entender o desenvolvimento psicológico. Assim, passou-se a valorizar o chamado desenho espontâneo, no qual o professor não podia intervir - bastava criar as condições adequadas para cada um se expressar. Coinfluenciado pelas idéias de Jean Piaget, Luquet defendeu, em 1913, que as crianças têm um "modelo interno" e por isso não copiam os objetos da maneira pela qual os percebe, mas transfigura-os com base nas próprias referências. Lowenfeld segue na mesma linha em Desenvolvimento da Capacidade Criadora, livro de 1947: "O desenho, a pintura ou a construção constituem processos complexos, nos quais a criança reúne diversos elementos de sua experiência para formar um conjunto com um novo significado". Segundo ele, o educador teria a função de ampliar a sensibilidade e aguçar os sentidos da garotada, já que "o homem aprende através dos sentidos".

Na segunda metade do século 20, Rhoda Kellogg pesquisou mais de 300 mil desenhos infantis. Entre outras coisas, descobriu que há muitas representações parecidas de casas, árvores e seres humanos. Para ela, essa constatação é um indício de que o impulso criativo é uma herança comum a toda a humanidade, não restrita a uma cultura ou um país. Rhoda defendeu que a criança é autodidata e que, se não houver interferência inadequada do adulto, vai chegar, desenhando, ao estágio final de crescimento emotivo, intelectual e espiritual. Outro importante legado dessa fase é que o desenho evolui com a idade, das formas mais simples (os rabiscos conhecidos como garatujas) para as mais complexas.
Brincando de ser artista
Fotos: Leo Drumond e arquivo pessoal
A turma de Belo Horizonte: olhar bem treinado e inspiração no estilo do artista pernambucano Romero Britto (3ª foto). Fotos: Leo Drumond e arquivo pessoal
Desde 2003, o Colégio Balão Vermelho, de Belo Horizonte, promove uma Oficina do Olhar, em que as crianças são instigadas a observar os próprios desenhos, expostos nos corredores, e a apreciar obras de arte e catálogos de propaganda. Recentemente, as turmas foram divididas em grupos de 12 com a missão de encontrar, em fotografias, partes da escola. Cada equipe recebia uma imagem e corria para achar o lugar. "O objetivo das oficinas é ampliar a capacidade de observar e compreender as artes visuais", afirma a coordenadora pedagógica Adriana Torres Máximo Monteiro.

A professora Ana Paula Alves Rodrigues costuma levar suas classes do Infantil II (4 e 5 anos) para passeios em galerias, museus e outros locais, como o Jardim Zoológico. De tanto treinar o olhar da meninada para as especificidades das obras (o jeito de pintar, os materiais utilizados, as formas e cores), ela conseguiu que a própria turma sugerisse produzir desenhos no estilo do pernambucano Romero Britto, cujas peças tinham sido descobertas numa dessas visitas. Vitor Lobato, 4 anos, foi um dos que se encantaram com a produção de Britto. "Adorei as cores", lembra o garoto. Ana Paula também adorou a idéia e logo reuniu tinta guache, tinta pastel e cartolina - e deixou a criatividade rolar solta. Ela lembra que é papel do professor deixar claro para a turma que a proposta do trabalho não é copiar o artista. "O que importa é pegar idéias e se inspirar. Assim, os pequenos aprendem a dominar o traço ao tentar adaptar o estilo."

 

Subjetividade e cultura

Foto: Leo Drumond
Foto: Leo Drumond
Os trabalhos da escola renovada foram essenciais para acabar com a cópia pura e simples, mas deram margem a uma interpretação antagônica: se as crianças precisam expressar o que vem de "dentro" e, com a idade, traçam formas mais complexas, basta deixá-las desenharem. Essa visão se mostrou incompleta, entre outras coisas, porque constatou-se que, no Ensino Fundamental, muitos alunos paravam de produzir por falta de intervenção do professor. O ponto de equilíbrio veio com a escola contemporânea, nos anos 1980. Essa corrente argumenta que não se deve descartar o processo interno de cada um, mas é essencial aliar a subjetividade à cultura. A expressão "desenho cultivado" foi criada por Rosa Iavelberg em 1993. Ela diz que é preciso oferecer elementos culturais de modo que o acesso a clássicos da história da arte universal, à cultura visual e a diferentes técnicas e materiais possibilite que todos se expressem com mais "saber desenhista".

Se a marca da escola tradicional era a reprodução, e a da renovada, a espontaneidade, o modelo atual privilegia a reflexão e a recriação. Quando a criança quer traçar uma flor, será influenciada naturalmente pelas formas de flores que ela já viu (ao vivo ou em obras de arte). Observa-se aí uma grande diferença das tendências tradicional e renovada. Em vez de elaborar aquela imagem clássica das pétalas em forma de coração (tradicional) ou traçar linhas que em nada remetam ao objeto original (renovada), na escola contemporânea a flor é influenciada por vários modelos prontos, mas com liberdade de expressão.

Mudança de conceitos


A postura do professor também muda. Se na tradicional o papel era pedir a cópia, e na renovada, abrir espaço para o desenho livre, agora é fundamental garantir que a turma aprenda sobre o desenho e também tenha espaço para escolher o que fazer. O principal ensinamento é que devemos ter uma visão mais ampla do que é arte visual, para além de telas e desenhos no papel. Fotos, outdoors, esculturas, instalações, objetos do cotidiano e histórias em quadrinho são parte da cultura visual e merecem ser trabalhados em sala. Você pode ainda levar rótulos de embalagens, chamar a atenção para a marca das roupas, dos tênis e das mochilas e montar um espaço para gibis, revistas e catálogos. Fora dos muros escolares, uma boa pedida é ver o estilo de numeração das casas.

Outra reorientação conceitual se dá na forma de apresentar os artistas. Ao falar de Alfredo Volpi, por exemplo, é mais importante ater-se à exploração da imagem, mergulhar em suas formas e cores e passar informações relevantes, como a de que ele foi um pintor de paredes. Só fazer com que a meninada reproduza suas telas cheias de bandeirinhas não acrescenta nada à aprendizagem.

Com a mão na massa

Fotos: Leo Drumond
Fátima Tosca recebe crianças em seu ateliê: a visita permitiu ver como a artista trabalha e inspirar-se em sua obra. Fotos: Leo Drumond
Na Escola Casa Via Magia, em Salvador, a professora Rita Virgínia Oliveira e Souza levou as crianças para conhecer o ateliê de uma artista plástica. Tudo começou quando os trabalhos de Isadora Ribeiro Santana, 5 anos, chamaram a atenção do grupo. A pequena adorava desenhar flores e a garotada ficava encantada com as histórias que ela contava da mãe, Fátima Tosca. Advogada que nunca exerceu a profissão, ela iniciou a carreira nas artes sem fazer nenhum curso e pinta há quase 30 anos. Um dia, enquanto buscava a filha, suja de tinta, Fátima aceitou com prazer a proposta da professora: receber a turma e mostrar sua oficina. "Durante duas horas, nem a piscina no quintal desconcentrou as crianças", lembra.

Para criar um ambiente tranqüilo e relaxado, ela deixou todos observarem os quadros e fazerem comentários com os colegas. Na seqüência, Fátima mostrou como misturar as cores e explicou brevemente suas técnicas de pintura. Depois, os pequenos tiveram a oportunidade de fazer os próprios trabalhos em tela, junto com a artista. O momento mais divertido da visita foi o Jogo dos Títulos. Fátima contou como costuma dar nome às obras e a imaginação da meninada rolou solta. "A produção de uma das crianças acabou batizada de A Árvore Torta Que Cresceu Demais." E Isadora adorou receber os colegas em casa. "Eles gostaram dos quadros da minha mãe e a gente pôde pintar também."

A evolução do trabalho


Foto: Leo Drumond

                                                    Foto: Leo Drumond

Assim como não é recomendável apresentar obras de arte com base na estética do bonito ou feio, não é papel da escola avaliar os desenhos o mesmo esse critério. "Esse tipo de avaliação pode causar uma inibição difícil de reverter", diz o professor Cheida Sans. A melhor forma de acompanhar os avanços é evitar comparações e apenas observar o percurso de cada um e suas progressões. Sim, as crianças podem (e devem) evoluir no dia-a-dia, com a supervisão do professor (acompanhe nos quadros desta reportagem duas experiências bem-sucedidas com desenho na pré-escola, uma em Belo Horizonte e outra em Salvador).

Bons caminhos para fazer a turma evoluir incluem planejar atividades que ajudem a desenvolver o olhar, como observar ambientes, fotos, imagens de computador e histórias em quadrinhos; promover conversas sobre o fazer artístico; apresentar artistas e suas obras e, claro, oferecer uma ampla gama de materiais (giz de cera grosso, massinha, pincel, revistas, jornais, catálogos de propaganda, tesoura sem ponta, cola em bastão) e suportes de diferentes tamanhos (papel craft, papel sulfite, panos, painéis, cartolina, tecido, areia, chão, parede).

Os especialistas dizem ainda que é recomendável fazer intervenções no papel: colar figuras ou iniciar traços, para todos completarem. Da mesma forma, o diálogo com outras artes ajuda muito. Dramatizar uma obra ou colocar uma música de época torna o clima mais propício ao desenvolvimento do grupo. Finalmente, é essencial ampliar o contato com obras de arte, seja em visitas a exposições (com objetivos claros, para o antes, o durante e o depois), seja em ateliês de artistas locais.

Se você tem crianças com deficiência na sala, algumas dicas podem ser úteis. Usar uma fruta para explicar uma natureza-morta para cego, por exemplo. Fazer maquetes em relevo com os elementos do quadro usando EVA, lixa ou tapete permite que todos sintam as texturas. "Inclusão não é ter a criança na classe e ponto. É preciso que suas necessidades de aprendizado sejam contempladas", diz a arte-educadora Amanda Fonseca Tojal, coordenadora do Programa Educativo Públicos Especiais da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Quer saber mais?
CONTATOS
Amanda Tojal
Associação de Assistência à Criança Deficiente, R. Pedro de Toledo, 1620, 04039-004, tel. (11) 5576-0982, São Paulo, SP
Centro Universitário Maria Antonia, R. Maria Antonia, 294, 01222-010, São Paulo, SP, tels. (11) 3255-7182 e 3151.4953
Escola Casa Via Magia, R. Henriqueta Catarino, 123, 40220-180, Salvador, BA, tel. (71) 3247-0068
Escola Balão Vermelho, Av. Bandeirantes, 800, 30315-000, Belo Horizonte, MG, tel. (31) 3281-7799
Isabel Bertevelli
Mônica Cintrão
Paulo Cheida Sans
Pinacoteca do Estado de São Paulo, Pça. da Luz, 2, 01120-010, São Paulo, SP, tel. (11) 3324-1000
Rosa Iavelberg

BIBLIOGRAFIA
O Desenho Cultivado da Criança: Prática e Formação de Educadores
, Rosa Iavelberg, 112 págs., Ed. Zouk, tel. (51) 3024-7554, 19 reais
Desenvolvimento da Capacidade Criadora, Viktor Lowenfeld e W. Lambert Brittain, 440 págs., Ed. Mestre Jou, 94 reais
Pedagogia do Desenho Infantil, Paulo Cheida Sans, 107 págs., Ed. Alínea, tel. (19) 3232-9340, 25 reais

quinta-feira, 13 de junho de 2013

O uso de tecnologias pode revolucionar a educação?

Aproveite a febre dos tablets, aplicativos e lousas digitais para discutir com os alunos os efeitos da tecnologia no ensino. Será que a revolução digital é mesmo um grande passo em direção à educação de qualidade? 
lousa eletrônica
Objetivos - Entender o conceito de tecnologia.
- Identificar aspectos negativos e positivos da tecnologia.
- Identificar e entender em que medida a tecnologia pode contribuir para a melhoria do ensino.
Conteúdo- Introdução das novas tecnologias no universo escolar
- Discussão sobre a crença social no poder da tecnologia

Tempo estimado Três aulas

Material necessário - Cópias do artigo "A tecnologia não nos salvará (por enquanto)", publicado em Veja (Edição 2261, 21 de março de 2012)
 - Cópia do filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, para o professor.
Desenvolvimento Aula 1 Divida a classe em grupos e solicite aos alunos uma leitura atenta da matéria da revista Veja. Peça que identifiquem as principais ideias contidas no texto e os argumentos fundamentais do autor. Em seguida, proponha uma discussão indagando se concordam ou não com as ideias apresentadas.
Observe que, provavelemente, boa parte da classe, assim como uma significativa parcela da sociedade, considera o desenvolvimento de novas tecnologias um progresso inestimável com efeitos benéficos e positivos para todos. Aproveite para contar aos alunos que essa concepção é reforçada pela ideia de que as tecnologias ajudariam a resolver inúmeros problemas que há tempos afligem a humanidade.
Questione se a turma concorda ou não com essa visão e, a fim de estimular a reflexão e a discussão, e veja quais são as teorias que a classe já tem sobre a possibilidade de a tecnologia ter efeitos sociais negativos. Aproveite para questioná-los sobre a ideia de progresso: de fato o progresso resulta do desenvolvimento tecnológico? os progressos existentes beneficiam igualmente todos os setores da sociedade? Um bom exemplo para encaminhar este debate é levá-lo para um campo mais prático, como o da medicina: o desenvolvimento de aparelhos médicos ultra-modernos garantem pleno acesso à saúde ou beneficia apenas uma parcela minoritária da população, já que encarece o tratamento médico?
A partir das respostas fornecidas aos alunos, explique que essa valorização da tecnologia resulta do papel fundamental que ela desempenha na vida econômica e social em todos os lugares. Explique, por exemplo, que o fenômeno da globalização só foi possível graças ao desenvolvimento tecnológico. 
Demonstre também como os novos instrumentos tecnológicos resultantes da terceira revolução industrial - a da microeletrônica  nos anos 80 - ajudaram a suprimir as distâncias e a acelerar o tempo, além de obrigarem os trabalhadores de todas as partes a desenvolverem novas habilidades.
Mostre também que muitos desses aparelhos provocaram enormes mudanças em nossos hábitos e cultura, como é o caso do celular , do vídeo e dos computadores pessoais conectados à internet.
Explique que essa visão preocupa hoje muitos pesquisadores de várias áreas do conhecimento e que, por esse motivo, muitos deles começaram a pesquisar os efeitos da tecnologia a fim de verificar se eles são sempre positivos ou benéficos ou se, ao contrário, apresentam efeitos perversos ou negativos.
Mostre que um desses pesquisadores, chamado Herbert Marcuse, afirma que a técnica se distingue da tecnologia por existir em todas as sociedades. A fim de entender melhor a distinção, proponha uma reflexão sobre como a humanidade trabalhava ou produzia nas sociedades pré-capitalistas.

Pergunte, por exemplo, que instrumentos utilizava na atividade agrícola e como os fabricava, já que não existiam máquinas. Questione que tipo de conhecimento era necessário para produzi-los e se estes sofriam mudanças constantes ou não.
Aproveite as respostas fornecidas e examine o caso da enxada, destacando o caráter artesanal de sua fabricação e como sua forma permaneceu basicamente a mesma até a atualidade. Indague se esse instrumento pode ser considerado uma extensão do corpo humano ou não. Solicite ainda que justifiquem a resposta.

Em seguida, aproveite as respostas fornecidas para explicar o que é a tecnologia. Mostre que ela começou a existir apenas na sociedade capitalista, sendo fruto da revolução cientifica e da revolução industrial. Explique o significado dessas revoluções e pergunte por qual motivo seria necessário produzir mais mercadorias em menos tempo.

Sempre aproveitando as respostas fornecidas, indague o que é uma máquina e o que é necessário para produzi-la. Aproveite para realçar a diferença entre experiência e ciência. Questione como o trabalhador se relaciona com a máquina, indagando se ela respeita ou não o ritmo biológico do corpo humano ou se, ao contrário, ele tem de se adaptar ao ritmo dela, que é mecânico. Estimule agora uma comparação entre a máquina e a enxada a fim de aclarar as diferenças entre elas e, dessa maneira, entre a técnica e a tecnologia.

Indague também se uma máquina opera isoladamente ou apenas em relação a outras máquinas. Aproveite para comentar como a organização delas na fábrica é planejada e não casual e chame a atenção da turma para a observação desse aspecto no filme Tempos Modernos, que será exibido na próxima aula.

Aula 2A fim de tornar claro o que foi discutido e analisado na aula anterior, exiba aos alunos o filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin. Solicite atenção especial para as cenas e as sequências em que o personagem aparece trabalhando na linha de montagem de uma indústria e em seguida proponha uma discussão sobre as características desse tipo de processo de trabalho e para apontarem os efeitos negativos das máquinas na vida dos operários. 
Aula 3Retome a análise e a discussão das aulas 1 e 2 e aproveite para explicar que a tecnologia seria um processo social que tem como objetivo dominar a natureza a fim de aumentar a produção econômica. Mostre que, em muitos casos a tecnologia não está somente à serviço do bem estar dos cidadãos ou dos trabalhadores, como o filme Tempos Modernos deixa claro, mas também -e, na maioria dos casos -  vinculadas à produção econômica.
Além disso, explique que os aparelhos tecnológicos modernos, destinados ao consumo civil e doméstico, apresentam uma qualidade nova em relação aos produtos tecnológicos resultantes da segunda revolução industrial. Enquanto aqueles eram, em geral, destinados a substituir o trabalho humano no universo doméstico, como geladeiras, máquinas de lavar roupa e louça, etc, os produtos que surgem com a revolução da microeletrônica, são destinados tanto ao trabalho, quanto ao lazer.
Questione se o uso intensivo desses aparelhos, que são usados em larga escala pelos jovens, apresenta sempre efeitos positivos ou se, ao contrário, interferem negativamente tanto no desempenho escolar quanto no processo de sociabilidade, visto que seus usuários preferem se comunicar por meio de tais aparelhos em vez de manter um contato real com os outros.
Proponha uma discussão e uma reflexão coletiva sobre isso indagando também quantas horas por dia, em média, seus usuários ficam defronte a tais aparelhos.
Explique também que o consumo intensivo dessas novas tecnologias pode inclusive viciar seu usuário porque elas oferecem uma espécie nova de diversão baseada na saturação de estímulos, que são cada vez mais intensos e acelerados, acabando assim por excitar desmedidamente a sensibilidade.
A fim de completar o raciocínio, mostre que tais aparelhos tecnológicos exigem uma adaptação por parte de seus usuários e que nesse processo eles os moldam e os adestram, de maneira que estes se tornam objetivamente dependentes da tecnologia para executar tarefas básicas. Destaque que com isso os indivíduos podem se isolar, dependendo menos de outros indivíduos.
Em seguida, proponha uma discussão sobre as consequências da introdução em larga escala desses aparelhos tecnológicos na escola e indague se eles poderiam contribuir decisivamente para a melhoria do ensino.
A fim de estimular e orientar o debate, explique qual é o objetivo do processo educativo e o que se entende por "formação".
Destaque e pergunte se o alunos concordam que os objetivos da escola são:
a) estimular a intensificação do processo de socialização;
b)desenvolver o indivíduo tanto intelectual quanto emocionalmente;
c) torna-lo apto a pensar e a agir racionalmente;
d) oferecer conhecimentos que possam auxiliá-lo a se inserir no mercado de trabalho como trabalhador qualificado;
e) estimular o desenvolvimento de atitudes e hábitos democráticos que reforcem sua atuação como cidadão responsável e crítico, capaz de atuar em defesa da justiça social.
Retome a discussão inicial da primeira aula e discuta novamente os principais argumentos apresentados pela matéria de Veja. Indague se a introdução das novas tecnologias no universo escolar pode de fato contribuir para a melhoria do ensino ou se, ao contrário, os governos promovem sua inclusão por motivos econômicos e, ao mesmo tempo, para agradar a sociedade, já que esta sustenta uma crença ingênua no poder e alcance dela.
Mostre como essa crença, sem questionamentos, pode levar o país e seus jovens a  impedir uma reivindicação real e efetiva na melhoria do ensino, que passa tanto pela valorização do professor e de sua atuação em sala de aula, quanto pelo processo educativo presencial.
Conclua o raciocínio mostrando que as novas tecnologias podem ser instrumentos importantes na formação e podem ser utilizadas no ambiente escolar, mas apenas na medida em que complementem o trabalho formativo do professor e da aula presencial.
Por fim, peça a elaboração de uma redação sobre o assunto.
AvaliaçãoVerifique se os trabalhos entregues são coerentes e se as ideias estão bem concatenadas. Analise, também, se a expressão verbal está correta e adequada e se os estudantes revelam entendimento do assunto discutido em sala. Leve em conta a participação do aluno nas discussões e observe se ele compreende tanto a ambiguidade da tecnologia quanto o papel formativo da escola.
Consultor Débora Carvalho
Mestre e Doutora em Sociologia pela Unesp. Professora de Sociologia da Universidade Federal de Lavras. Autora de livro didático de Sociologia

O Filme Crianças do meu coração (Children of My Heart, 2000).



        O Filme “Crianças do meu coração” Conta a história de uma professora Gabrielle, jovem apaixonada pela profissão, que deixa sua cidade para dar aula. Ela  acaba se apaixonando por um aluno, Mederic de 15 anos.
        No primeiro momento a professora aparenta não ter experiência e  seu primeiro desafio é ganhar o respeito dos alunos e seus pais. Precisando controlar uma classe com alunos de diferentes idades, ela  emprega métodos diferentes que busca a incentivar cada aluno ao estudo, despertando o  interesse pelos estudos.
          Atualmente a indisciplina tornou-se um “obstáculo” ao trabalho pedagógico e os professores ficam desgastados, tentam várias alternativas, e já não sabendo o que fazer, chega mesmo em algumas oportunidades a pedir ao aluno indisciplinado que se retire da sala já que ele atrapalha o rendimento do restante do grupo. Este filme mostra o oposto. A professora realmente se preocupava com cada aluno, muitas vezes no tempo que passa o filme há falta de disciplina eram aplicadas punições severas a esses estudantes.
          Por ser uma Educadora que aplicava métodos  inovador para seu tempo, tinha certa aproximação com os alunos que não era normal para época, Ao passo que a dedicação ao aluno ultrapassou o seu empenho em sala de aula tornando algo a mais, este sentimento estar acompanhado por um interesse inconsciente no estudante.
           A carência ou fragilizada de ambos pode ser uma das causas principais do relacionamento afetivo entre a professora e o aluno, o adolescente em geral tem uma tendência a ter admiração pelos os professores, cabe o educador traçar limites para que isso não venha se transformar em um relacionamento afetivo de mais. O que não aconteceu. Havia grandes chances de a paixão acontecer. Estes são fatores determinantes e importantes de serem observadas às vezes as pessoas encaram o amor como uma coisa mágica que simplesmente aconteceu, quando, na verdade, era quase óbvio que o andamento desta relação pudesse levar a este resultado.
          A intenção da professora realmente era nobre, mas uma coisa é certa, entre o se deixar se envolver ou não, a escolha era dela e a responsabilidade pelas consequências também.
          O relacionamento entre aluno e professor desde sempre foi um tabu, continua sendo visto com estranheza. Assim, o tema não é delicado apenas para os enamorados em questão, mas também para as instituições, para o corpo docente e para os demais estudantes que dividem o mesmo espaço de ensino.
          O pivô das discussões continua sendo a ética, colocada em xeque por aqueles que observam de fora o relacionamento amoroso entre mestre e aluno.
         Mesmo ela sendo uma excelente educadora pecou em se apaixonar e deixar chegar ao ponto que chegou, a principal consequência foi ela ter sido expulsa da escola, mais o resultado poderia causar reflexo  negativos no desenvolvimento do aluno.
   O fato é que causou um sério transtorno para todos e principalmente para o jovem que ainda esta em fase de amadurecimento emocional e cognitivo, tornando assim  mais vulnerável ao seu sentimento .


SINOPSE DO FILME CRIANÇAS DO MEU CORAÇÃO

"Crianças do Meu Coração" conta a história de Gabrielle, uma jovem apaixonada e inocente, que deixa sua cidade para assumir seu primeiro trabalho durante a Grande Depressão. Seu primeiro desafio é ganhar a confiança dos alunos e seus pais, já que emprega alguns métodos nada convencionais. Mas quando seu aluno mais velho, um rebelde de quinze anos, declara seu amor por ela, Gabrielle trava uma batalha entre seu coração e sua consciência.


FICHA TÉCNICA
Diretor: Keith Ross Leckie
Elenco: Geneviève Désilets, Yani Gellman, Isabella Fink, Lise Roy, Michael Moriarty.
Produção: Phyllis Laing, Mary Young Leckie
Roteiro: Keith Ross Leckie
Fotografia: Michael McMurray
Trilha Sonora: Robert Carli
Duração: 90 min.
Ano: 2000
País: Canadá
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Não definida
Classificação: 16 anos