terça-feira, 28 de maio de 2013

A conexão que faz a diferença. Mesmo

Especialistas alertam: adquirir equipamentos de ponta é muito mais fácil do que efetivamente se apropriar das novas possibilidades de construção do conhecimento

Dadas as dimensões continentais de nosso país, a tecnologia tem um papel fundamental na articulação de municípios longínquos, na troca de experiências e na construção de saberes que podem ser ministrados a distância. Para Fernando Almeida, ex-secretário municipal de Educação de São Paulo e responsável pela logística dos módulos não presenciais da Escola de Gestores, um programa do Ministério da Educação (MEC), a tecnologia é também uma forte aliada do diretor no cotidiano escolar: "Ela possibilita disponibilizar um grande número de dados com transparência, prestar contas, controlar as notas de alunos e a presença dos professores e permite que qualquer outra informação seja colocada em rede aberta." O domínio da internet e de programas de edição de texto, de apresentação de dados e de tabulações é parte importante dos cursos de reciclagem de diretores oferecidos no país.
Projeto Um Computador para Cada Aluno, em Porto Alegre: o que importa não é melhorar o ensino, mas a aprendizagem. Foto: Tamires Kopp
Projeto Um Computador para Cada Aluno, em Porto Alegre: o que importa não é melhorar o ensino, mas a aprendizagem
Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, doutora em Educação e coordenadora do programa de Gestão Escolar e Tecnologias, desenvolvido pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, afirma que as escolas não exploram todo o potencial que a tecnologia oferece. "É nesse contexto que surge a importância da formação não só para o professor mas também para os funcionários, para que a tecnologia não seja utilizada só em sala de aula, mas faça parte do coletivo."

Na prática, a especialista explica que é preciso que o educador atribua sentido aos equipamentos em seu trabalho. É só a partir do momento em que incorporamos as novas mídias que valorizamos seu uso (leia mais no quadro abaixo). "Temos hoje boas bases informatizadas que foram criadas pelas próprias Secretarias de Educação com o intuito de facilitar o acompanhamento de dados escolares, como desempenho de alunos, índices de aprovação e evasão. No entanto, de nada adianta o diretor alimentar essas bases se, quando alguém solicita alguma informação, ele acha mais fácil procurar num papelzinho."

Léa Fagundes, coordenadora do Laboratório de Experiências Cognitivas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é uma das pioneiras na pesquisa sobre a aplicação da tecnologia na Educação no Brasil. Há mais de 20 anos, ela desenvolve projetos na área, como o programa Um Computador por Aluno, que consiste no uso de um laptop educativo por estudante matriculado em escola pública, além de seus educadores. Segundo ela, o problema é que os computadores, a programação deles, os sistemas digitais e suas possibilidades são pensados pela escola e pelos educadores para melhorar o ensino e não para melhorar a aprendizagem, ou seja: para conservar, não para transformar a escola. "Primeiro, tivemos os CAIs (sigla em inglês para Instrução Apoiada no Computador), depois os softwares educacionais, a seguir os CD-ROMs, os tutores inteligentes e, a grande novidade, os objetos de aprendizagem. Mas essas novas tecnologias de informação e comunicação não trazem problemas para os cidadãos e para a sociedade? Não estão a requerer mudanças de atitudes, desenvolvimento de novas competências e a vivência de valores éticos e morais?", questiona Léa. "Os alunos e professores precisam se apropriar da tecnologia tanto no que se refere ao uso do computador e da internet como de outras ferramentas de comunicação e informação", enfatiza.

Comunidade e conectividade

- Ninguém pode ficar de fora da inclusão digital na escola. A função do gestor e do professor é envolver todos nesse processo.

- Produza um site como um espaço de diálogo de toda a comunidade escolar. Divulgue nele as reuniões e os eventos para atrair a atenção dos pais e, com essa interação, promova debates sobre temas ligados à escola.

- Desenvolva as etapas passo a passo nesse tipo de projeto, fazendo o planejamento e compartilhando o registro com a comunidade escolar. É muito importante garantir a noção de coletividade.

- Permita que os pais acompanhem a vida escolar dos alunos, crie grupos de aprendizagem e ofereça a formação continuada aos professores - tudo via internet. Como os encontros presenciais são cada vez mais difíceis hoje em dia por causa da falta de tempo, aproveite a tecnologia para promover essas reuniões virtuais.
 


O uso de diferentes linguagens de mídia na escola pode ser um caminho para promover mudanças de atitudes e de metodologias de trabalho. "O professor se especializar para melhorar sua didática é insuficiente hoje, pois, como já dizia Paulo Freire, se ele tem uma prática bancária, autoritária, provavelmente vai usar as novas mídias para reafirmá-la", diz Ismar de Oliveira Soares, coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE-USP).

Por isso, é importante que a capacitação dos educadores e gestores para o uso da mídia se dê em conjunto com a comunidade escolar. Para Ismar, "não é com base na tecnologia que nasce o aprendizado, mas com uma gestão participativa do processo".

No ano passado, o MEC deu início a um curso de formação chamado Mídias na Educação - mais de 15 mil professores participam da primeira fase. O programa trabalha com as quatro linguagens - mídias impressa, digital, audiovisual e radiofônica. Há também um módulo de gestão. O NCE-USP é uma das instituições parceiras do ministério nesse curso. "O objetivo é fazer os educadores refletirem sobre como podem usar a tecnologia para ensinar melhor", explica Ismar.
Ismar Soares, coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da USP. Foto: Marcos Lima
Ismar Soares, coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da USP
O especialista dá dicas de como é possível fazer essa apropriação. Ele cita algumas escolas municipais de São Paulo que participaram do projeto Educom.radio, desenvolvido pelo NCE-USP entre 2000 e 2004, e fizeram uso do rádio como uma ferramenta de gestão. Para atrair os pais, em vez de enviar comunicados por escrito, dirigentes e professores motivaram os alunos a produzir programas de rádio com temas de interesse da comunidade e a divulgação de eventos e reuniões. "Com isso, além de os alunos se sentirem parte do processo, os pais passaram a comparecer aos encontros e a participar mais, pois se empolgavam ao ouvir o programa feito pelos filhos - que eram levados para casa em fita cassete. Após essa experiência, as escolas descobriram que muitos pais eram analfabetos e, por isso, não atendiam ao que era pedido nos bilhetes", lembra Ismar.

"Se o professor tem uma prática autoritária, provavelmente vai usar as novas mídias para reafirmá-la."

Para motivar a mudança de atitude dos educadores em relação ao uso da tecnologia, o MEC criou uma nova plataforma de interação: o Portal do Professor (saiba mais sobre o projeto no quadro ao lado). "Nós observamos que levar a chamada cultura da informática para as escolas não é suficiente. O maior trabalho é a instalação dessa cultura", avalia o secretário de Educação a Distância do MEC, Carlos Eduardo Bielschowsky.

Quando Maomé vai à montanha

Pioneirismo: a tecnologia foi fundamental para desenvolver a capacidade de comunicação de alunos surdos na EEF Helen Keller, na cidade gaúcha de Caxias do Sul. Foto: Tamires Kopp
Pioneirismo: a tecnologia foi fundamental para desenvolver a capacidade de comunicação de alunos surdos na EEF Helen Keller, na cidade gaúcha de Caxias do Sul
A EEF Helen Keller, de Caxias do Sul, a 100 quilômetros de Porto Alegre, é um exemplo de pioneirismo na aplicação da tecnologia em seus processos de ensino e aprendizagem. Ali estudam cerca de 180 crianças surdas. Em meados da década de 1990, quando ainda não se falava em internet, a professora Mônica Duso de Oliveira participou da implantação de um programa de novas mídias - com o apoio de educadores da UFRGS. "Instalamos uma antena de radioamador que permitia a esses estudantes surdos trocar mensagens em tempo real usando computadores", fala.

Inovadora, essa prática logo gerou resultados. "A alfabetização em língua portuguesa é uma grande dificuldade para o surdo, mas, ao trocar mensagens, eles aprimoraram a escrita de forma eficiente", diz Mônica. Ela ressalta que todos os alunos daquela época atualmente estudam em universidades e escrevem com perfeição.

Carilissa Dall´Alba, 23 anos, fez parte desse grupo. Entrevistada via e-mail, ela mostrou facilidade na comunicação escrita e diz guardar muitas boas lembranças da escola. "Eu tinha uns 10 anos. Lembro que estava na frente de um computador bem velho, a tela era preta, e as letras, amarelas. Com o bate-papo, eu consegui me comunicar pela primeira vez com os surdos de outra cidade. Fiquei muito feliz."

Para Carilissa, a comunicação foi fundamental para desenvolver a escrita: "A comunidade surda é pequena. Para mim, todo deficiente auditivo deveria saber usar a internet e poder conhecer os surdos de outros lugares. Isso é muito importante". Atualmente, ela freqüenta dois cursos universitários: Letras e Psicopedagogia.

Sites de relacionamento também se tornaram aliados dos professores da escola gaúcha. "Comecei a dar aulas no ano passado na Helen Keller e no início senti dificuldades em me aproximar dos alunos. Naquele momento, tive a idéia de adicioná-los no orkut para trocar mensagens. Isso fortaleceu nossos vínculos e, desde então, estimulo essa comunicação. É incrível ver como eles aprimoram a escrita", constata a professora Izabel Cristina Lopes. Em suas aulas de Matemática, a internet também é parceira: "Os jovens resolvem exercícios virtuais".

E quando a montanha vai a Maomé

 
Trabalho colaborativo: educadores da EEEF Luciana de Abreu, na capital gaúcha, usam a tecnologia para melhorar o ensino e a aprendizagem. Foto: Tamires Kopp
Trabalho colaborativo: educadores da EEEF Luciana de Abreu, na capital gaúcha, usam a tecnologia para melhorar o ensino e a aprendizagem
Não tão distante de Caxias do Sul, na EEEF Luciana de Abreu, na capital gaúcha, a aplicação da tecnologia é um desafio que surgiu recentemente graças ao projeto Um Computador por Aluno. Iron Rodrigues Otaña, que dirige a instituição desde 1983, conta que a escola nem tinha sala de informática: "Fomos escolhidos por causa da base pequena de alunos, 400 de Ensino Fundamental, o que garantia que o número de computadores seria suficiente para todos os estudante e professores". Na prática, Iron reconhece que tanto os gestores como os professores aprenderam muito com as máquinas. "O bacana é ver a gurizada fazendo seus projetos e participando mais da aula por causa da tecnologia. Confesso que esse não é um processo fácil. Alguns professores foram resistentes, mas posso garantir que vale muito a pena." .

A professora de Língua Portuguesa Janina Antonioli Pires, 24 anos, destaca que não basta garantir os equipamentos para melhorar a aprendizagem. "Trabalhar numa sala onde os alunos têm laptops em mãos nos faz ter uma maneira nova de pensar o mundo. A internet é uma ferramenta sem limites. É preciso trabalhar com projetos, incentivar o jovem a ser autor dos trabalhos, pesquisar, buscar conteúdos", explica.

Gestão compartilhada
Léa Fagundes, coordenadora do Laboratório de Experiências Cognitivas da UFRGS. Foto: Tamires Kopp
Léa Fagundes, coordenadora do Laboratório de Experiências Cognitivas da UFRGS
As plataformas digitais também podem ir além da sala de aula e servir de espaço de comunicação entre a comunidade escolar. A prefeitura de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, lançou no início do ano o portal www.educacao.saobernardo.sp.gov.br, que permite aos educadores, alunos e pais acesso a todos os indicadores da rede - inclusive ao planejamento pedagógico. "A interatividade virtual é baseada em comentários livres, que podem ser feitos no portal e são dirigidos diretamente à unidade escolar. Internamente, há um fórum de discussões disponível para todos os funcionários, em que os educadores trocam informações", explica a chefe da Divisão de Ensino Fundamental e Infantil da Secretaria de Educação e Cultura da cidade, Kathia Maria de Carvalho Diniz.

"Alunos e professores precisam se apropriar da tecnologia. Não há por que usar novos recursos para reproduzir o tradicional."

A Secretaria oferece capacitação tecnológica para os educadores da rede municipal e os gestores fazem o acompanhamento virtual de desempenho e freqüência dos alunos. "Os professores também são motivados a trabalhar com blogs educativos. A Escola Padre Fiorente Elena, por exemplo, publica produções de rádio na internet."

Na mesma linha de interatividade, o Instituto Ayrton Senna criou o portal www.escolaconectada.org.br, no qual os internautas podem debater temas pertinentes à Educação, trocar experiências e criar blogs. Foi o que fez Dagmar Lourena, da EM Prof. Auxiliadora Paiva, em Araxá, a 374 quilômetros de Belo Horizonte. No blog, ela posta seus projetos pedagógicos e tem um espaço de interatividade com os alunos, que também são motivados a escrever.

O instituto também desenvolveu o Sistema Ayrton Senna de Informações, uma ferramenta de gestão que permite acompanhar o desempenho de cada um do 1,5 milhão de estudantes que participam de seus programas em todo o país. "Acompanhamos dez indicadores, como lição de casa, número de livros lidos, freqüência de alunos e professores, alfabetização na 1ª série, aprovação e cumprimento dos 200 dias letivos de aula. Isso ajuda a prevenir e antecipar problemas", explica a diretoraexecutiva Margareth Goldemberg. Se alguém falta, por exemplo, a equipe do instituto entra em contato com a família ou a escola para ver o que está acontecendo.

As possibilidades são ilimitadas, mas Léa Fagundes é taxativa: "Não há por que usar novos recursos para reproduzir o tradicional". Mais do que adquirir máquinas, o importante é fazê-las funcionar como uma alavanca para desenvolver novas maneiras de aprendizagem.

Professor online

Todo professor hoje sabe que a internet é uma importante ferramenta de trabalho. Essa "ajuda" tecnológica não se restringe a páginas de notícias e à possibilidade de realizar pesquisas sobre os mais variados assuntos, mas também para encontrar materiais para fazer o planejamento de suas aulas e trocar experiências com colegas. NOVA ESCOLA lançou no mês de maio uma área especialmente dedicada a profissionais em busca de boas idéias de seqüências didáticas. A seção de planos de aula oferece 400 opções de atividades com grande diversidade de temas, desenvolvidas por consultores de todas as disciplinas e âmbitos para Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Além disso, o professor tem acesso a vídeos com entrevistas de especialistas, registro de atividades em sala e o passo-a-passo da construção de jogos educativos e brinquedos, por exemplo. Há ainda o Ponto de Encontro, em que o professor pode participar de comunidades virtuais e criar sua própria, propondo discussões sobre a prática docente a usuários de todo o Brasil.

Outra boa opção na rede é o Portal do Professor, do MEC, que oferece roteiros de aulas pré-desenvolvidas e também a possibilidade de o internauta incluir seu plano de aula no site. Há ainda a ferramenta Moodle, um software livre para a criação de comunidades virtuais em que se pode participar de cursos online e fóruns, entre outros recursos. Não é necessário fazer o download do programa, basta se cadastrar e acessar. Neste site, pode-se acessar um tutorial de como usar a ferramenta.

 

Seis características do professor do século 21

Conheça  profissionais que já incorporaram as qualidades do novo educador à rotina e comprovaram que se aperfeiçoar faz toda a diferença na aprendizagem da turma.

 

 Ter boa formação

Foto: Natty Canto
Mariléa Giacomini Arruda

O mestrado é o caminho natural

"Eu me formei em Letras há 20 anos e, assim que fiquei frente a frente com os alunos, percebi que não estava preparada para tantos desafios didáticos. Logo me dei conta de que os bons educadores, aqueles que realmente fazem a turma aprender, são os que não param de estudar. Comecei procurando textos para ler por conta própria. Levava esse material para a escola e discutia sobre ele com a equipe. Isso não só me ajudou a dominar cada vez mais o conteúdo curricular como também me deu ferramentas para pensar em novas formas de abordá-lo durante as aulas. Para me aperfeiçoar ainda mais, senti que precisava voltar à universidade. Optei por cursar um mestrado em Língua Portuguesa na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Estudei a questão gramatical, o que me deu embasamento para trabalhar o tema com meus alunos de 5ª a 7ª séries. No início da carreira, eu tinha uma visão mais tradicionalista. Valorizava apenas a parte formal da gramática, acreditando que os estudantes deveriam saber de cor o que é um advérbio e um adjetivo. Quando passei a ter acesso à bibliografia sobre o tema, percebi que mais importante é eles compreenderem a função desses elementos na construção do sentido do texto. Eu também tinha uma noção simplista de certo e errado até entender a lógica dos ditos erros gramaticais dos alunos. A integração entre o mestrado e a experiência em sala de aula leva a reflexões sistemáticas que eliminam barreiras entre a teoria e a prática. Acredito que a boa formação é o caminho para a Educação pública dar um salto de qualidade. Só assim os educadores vão dominar os conteúdos, fazer um planejamento de acordo com as diretrizes da rede e a realidade dos alunos e avaliar a própria prática. Sinto cada vez mais confiança em relação a meus conhecimentos e, quanto mais estudo, mais percebo como isso é imprescindível para ensinar bem."

Mariléa Giacomini Arruda , 57 anos, professora de Língua Portuguesa na EMEF Antonio Sampaio Dória, em São Paulo, SP
Diploma para todos
Graduação para os que ainda não se formaram e pós para os demais - assim se persegue a qualidade

1996 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) determina que os docentes devem ter curso superior. O médio vale para Educação Infantil e anos iniciais.

2001 O Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece metas para ampliar a oferta em cursos de mestrado e doutorado para professores da Educação Básica

2006
É instituído o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) com cursos a distância para levar a graduação aos professores dos rincões do país.

2007
Fim do prazo para que somente fossem admitidos professores com nível superior ou formados por treinamento em serviço, como previsto na LDB.

2009
Termina o prazo para que os estados elaborem planos de carreira docente. Muitas redes preveem salário maior para mestres e doutores.

2010
O Senado aprova a obrigatoriedade do nível superior para lecionar na pré-escola e nas séries iniciais. O projeto ainda tramita na Câmara dos Deputados. 

FONTE:http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/seis-caracteristicas-professor-seculo-21-602329.shtml?page=0

 Usar as novas tecnologias

Foto: Suzete Sandini

Flaviana Meneguelli

Um recurso a favor dos conteúdos

"Leciono Matemática há 12 anos e sempre acreditei que a tecnologia pode facilitar o ensino. Ainda hoje, no entanto, alguns educadores não se sentem capacitados para aproveitar o recurso e outros, empolgados, fazem uso dele em qualquer atividade sem planejamento. Infelizmente, em ambos os casos, saem perdendo os alunos e os próprios professores, que deixam de ter a seu favor uma ferramenta de ensino essencial. Aprendi a importância de analisar quais conteúdos podem ser ensinados com o auxílio da tecnologia. Com isso, além de aprimorar nossa prática, damos oportunidade aos estudantes de desenvolver habilidades tecnológicas básicas no mundo de hoje, como saber usar um editor de texto e uma planilha. O mestrado em uso das tecnologias, que fiz na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), me deu meios para trabalhar com mais qualidade alguns conceitos matemáticos. Com as turmas da 6ª série para as quais leciono atualmente, por exemplo, passei a usar planilhas eletrônicas no trabalho com operações e, principalmente, de tratamento da informação e porcentagem. Os alunos fazem cálculos nas planilhas e depois criam gráficos que melhor representam os resultados obtidos. Os recursos disponíveis hoje não se aplicam só à minha disciplina. Na escola em que atuo, há professores de Língua Portuguesa que conjugam o ensino de novos gêneros, como blogs e fotologs, à produção de texto. O fato é que nossos alunos são formados dentro da cultura digital e profundamente influenciados por ela. Com a democratização do uso da internet, o crescimento do número de lan houses, o barateamento dos computadores e mesmo a implantação de programas de governo destinados à informatização das escolas, não há por que trabalhar usando somente o quadro e o giz. Cabe a nós entender como se dá esse processo e nos atualizar de forma a desafiar os estudantes."

Flaviana Meneguelli, 32 anos, professora de Matemática na Escola Básica Municipal Intendente Aricomedes da Silva, em Florianópolis, SC
Mais computadores nas escolas
A orientação atual é usar essa ferramenta como meio, e não como fi m em si mesma

1981 É realizado na Universidade de Brasília (UnB) o Primeiro Seminário Nacional de Informática na Educação, com apoio do Ministério da Educação (MEC).

1989 O MEC institui o Programa Nacional de Informática na Educação (Proninfe) para desenvolver a informática educativa e seu uso nas redes.

1997
O Programa Nacional de Informática na Educação é rebatizado de Proinfo e prevê laboratórios de informática nas escolas.

2009
Pesquisa da Fundação Victor Civita (FVC) mostra que 73% das escolas estaduais têm laboratório de informática, e 83%, banda larga. 

 Atualizar-se nas novas didáticas

Foto: Beto Figueiroa
Sandra de Amorim Silva Cavalcanti

Um jeito de ensinar cada disciplina

"Quando assumi uma sala de aula pela primeira vez, senti dificuldade por não ter um grande domínio das didáticas. Na faculdade, procurei aprender o máximo sobre isso e, como leciono nas primeiras séries do Ensino Fundamental, tenho de me preparar em todas as áreas. O trabalho com Língua Portuguesa é estratégico nesses anos iniciais. Para dar conta disso, assim que terminei a graduação, já estava fazendo uma extensão universitária sobre práticas de leitura na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Também me aprimorei em relação à escrita num curso que abordou as situações didáticas fundamentais na alfabetização. Nunca perco as formações oferecidas pela rede e esse foi o meio de me atualizar em relação à didática da Matemática. No curso, conheci as últimas pesquisas sobre o tema, entendi como as crianças aprendem e de que forma encaminhar as atividades para facilitar a aprendizagem. Participei ainda de cursos em História, Geografia e Arte. Faz toda a diferença no dia a dia na sala de aula ter contato com as obras de autores consagrados e se aprofundar nas didáticas específicas. Para resolver outra demanda essencial - ensinar alunos com deficiência -, fiz um curso de pós-graduação em Psicopedagogia. Com as aulas, aprendi formas de interagir com eles e a identificar que atividade é mais eficaz para cada tipo de dificuldade. Invisto muito do meu tempo em todos esses cursos, mas isso acaba facilitando meu trabalho e me fornece instrumentos para enfrentar as dificuldades em sala. Hoje tomo decisões com mais segurança e, quando vejo o quanto os estudantes estão avançando, percebo que estou no caminho certo. Os resultados da Prova Brasil mostram o impacto da formação no meu trabalho: as notas da minha sala são muito maiores do que as médias nacional, estadual e municipal."

Sandra de Amorim Silva Cavalcanti, 29 anos, professora na EM Professor Aderbal Galvão e coordenadora de projetos da rede municipal do Recife, PE
Diretrizes curriculares mais precisas
Cada vez mais o ensino se baseia nos estudos sobre como as crianças aprendem

1970 São publicadas no Brasil as primeiras obras de Jean Piaget (1896-1980) sobre o desenvolvimento infantil, abrindo as portas para o estudo das didáticas.

1988 São lançados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), contendo orientações didáticas relativas a todas as disciplinas.

1999
O MEC elabora o Referencial Curricular para a Formação de Professores, com orientações para o trabalho com as didáticas de cada disciplina.

2008
A rede municipal de São Paulo lança orientações curriculares baseadas nas últimas pesquisas didáticas e é seguida por outras redes. 

 Trabalhar bem em equipe

Foto: Marina Piedade
Patrícia Lemes Mullin

Na troca de ideias, todos ganham

"Sou professora há mais de 17 anos e hoje tenho total clareza de que, conversando com os demais professores e com a orientadora pedagógica, é possível descobrir formas mais eficazes de ensinar. Na minha escola, o trabalho em equipe realmente funciona. Há mais de uma turma de crianças da Educação Infantil da mesma idade, o que permite compartilhar informações sobre um mesmo programa. Juntos, planejamos as atividades, analisamos o que funcionou ou não e pensamos no que é preciso fazer para melhorá-las. Além disso, semanalmente, me reúno com a orientadora pedagógica, que me ajuda a ver problemas nas estratégias que estou usando e me faz refletir sobre pontos importantes do desenvolvimento das crianças. O relacionamento também ocorre com os colegas que lecionam em outros níveis. Fazemos avaliações individuais dos pequenos em cada eixo curricular e registramos em que cada um precisa se desenvolver mais. No fim do semestre, essas informações são compartilhadas com o professor que vai acompanhar a turma no ano seguinte. Assim, ele fica sabendo quem é cada um, o que sabe, que dificuldades apresenta e os pontos que necessitam de atenção. Os pais são outros grandes aliados no processo de ensino e aprendizagem. Aproveitamos que eles trazem o filho e conversamos sobre a participação dele em sala. Quando a criança apresenta alguma dificuldade, logo eles são avisados para que possam acompanhar de perto. Orientamos sobre como pode ser a ajuda em casa porque, afinal, eles não são educadores e não sabem exatamente como fazer isso. Nas reuniões de pais, que são periódicas, explicamos nossa concepção de trabalho para que entendam como diferentes atividades favorecem o ensino da leitura, entre outras habilidades. Quando todos - família, professores e gestores - se envolvem, a criança sempre ganha."

Patrícia Lemes Mullin, 39 anos, professora de pré-escola na EMEI Professora Marianita de Oliveira Pereira Santos, em São José dos Campos, a 91 quilômetros de São Paulo
O fim do planejamento solitário
A troca de experiências com colegas e coordenadores é cada vez mais incentivada para aprimorar a prática

1961 A primeira LDB prevê a existência de orientadores e supervisores na escola, que deveriam ter no mínimo fomação no curso Normal.

1990 As redes passam a ver o coordenador como responsável pelo trabalho pedagógico e por aprimorar a técnica de ensino. O gestor deve aproximar a família da escola.

1996
A LDB determina que as redes reservem algumas horas (remuneradas e incluídas na jornada) para a equipe estudar e planejar as aulas coletivamente.

1998
Com os PCNs e o Projeto Político Pedagógico (PPP) construído coletivamente pelas escolas, o coordenador passa a auxiliar melhor a equipe.

2008
A Lei do Piso Salarial do Magistério propõe o mínimo de 1/3 da jornada para formação, o que está sob análise do Supremo Tribunal Federal.

2010
Diversas redes, como a estadual de São Paulo, a maior do país, reservam 1/3 da carga horária dos professores para a formação em serviço. 

 Planejar e avaliar sempre

Foto: Tamires Kopp
Greicy Silva

Observar para reorientar o trabalho

"Comecei a dar aula aos 18 anos, enquanto cursava o Magistério. Na época se falava pouco de planejamento. Avaliação era sinônimo de prova e nada mais. Foi na licenciatura em Matemática que entendi a importância de usar meios avaliativos para checar o que de verdade os alunos aprenderam e, com isso, verificar a qualidade e a consistência das estratégias de ensino para reorientar o trabalho em sala. Minha escola tem um currículo bem estruturado e sei quais são as expectativas de aprendizagem para cada conteúdo. Como leciono para o 6º ano, ter clareza do que os alunos dominam em relação ao programa do segmento anterior é fundamental para garantir que eles acompanhem o andamento das atividades. Começo sempre com uma sondagem e, com base nesse levantamento, programo maneiras de retomar o que não foi aprendido. Na hora de introduzir um conteúdo, proponho situações diversas antes de entrar na teoria propriamente dita, definindo estratégias e fórmulas e sistematizando o que vimos na prática. Durante todo o ano, vão se alternando os momentos de planejamento, as aulas e a avaliação - que não se baseia apenas em provas. Observo e registro as estratégias usadas pelos alunos, as dificuldades e os avanços deles, além de olhar os cadernos. Assim, procuro não deixar as dúvidas se acumularem e logo intervenho. Quando identifico alunos com dificuldades, me concentro em ajudá-los, enquanto quem está em dia com a matéria se ocupa de outras atividades. Trabalhos em grupo, durante as quais os colegas se ajudam, também são essenciais. Algumas vezes, como lição de casa, proponho desafios complexos para a garotada. Isso me ajuda a ver até que ponto todos entenderam o que foi visto e se conseguem usar um conhecimento em diferentes contextos. Esse é mais um jeito de aproveitar da melhor maneira o potencial da turma e tornar meu trabalho ainda mais produtivo."

Greicy Silva, 28 anos, professora de Matemática no Ciep Municipal Alexandre Bacchi, em Guaporé, a 200 quilômetros de Porto Alegre
Currículo e avaliação ganham destaque
Saber o que ensinar e checar a aprendizagem da turma constantemente são a base do trabalho docente

1990 É criado o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que permite às equipes escolares analisar a qualidade do ensino oferecido.

1996 Com a LDB, se intensificam as discussões sobre o currículo nas redes de ensino. O MEC passa a realizar encontros regionais e nacionais sobre o tema.

1998 
Os PCNs trazem a primeira tentativa de uma matriz curricular nacional ao dividir os conteúdos em eixos e explicitar os objetivos de cada área.

2000
O país participa pela primeira vez do Programa Internacional de Avaliação dos Alunos (Pisa), possibilitando a comparação com outros países.

2005
É criada a Prova Brasil, que analisa o desempenho de todas as salas de aula da 4ª e 8ª séries, permitindo a professores e gestores avaliar o próprio trabalho.

2008
A rede municipal de São Paulo é a primeira a publicar orientações curriculares com expectativas de aprendizagem para cada disciplina. 

 Ter atitude e postura profissionais

Foto: Gilvan Barreto
Leandro Pereira Matos

Todos os alunos podem aprender

"Meu primeiro trabalho na rede pública foi com turmas de 6º, 7º e 9º anos e, no início, me senti desanimado. Os alunos eram indisciplinados, não tratavam bem uns aos outros e discutiam bastante. O contexto social em que viviam era difícil e cheguei a questionar se seria mesmo possível ensinar diante dessas circunstâncias. Mas, em vez de desistir, resolvi investigar melhor o porquê da indisciplina - e isso fez toda a diferença no meu trabalho. Percebi que, ao não se sentirem ouvidos, os jovens perdiam o interesse pelas aulas. Era necessário valorizar o que eles sabiam e, sobretudo, respeitar seu cotidiano. Fiz isso, por exemplo, quando discuti a situação dos negros hoje, traçando um paralelo com as questões históricas da escravidão. Ouvi o que pensavam sobre isso: muitos citaram o preconceito como um grande problema vivido por eles. Assim, a aprendizagem do conteúdo começou a fazer sentido e eles passaram a ficar mais atentos às aulas. Ainda assim, se surgia alguma briga, eu deixava claro que, como qualquer outro lugar, a sala de aula também tem normas de convivência. Em vez de impor regras, coloquei o tema em discussão e os atritos diminuíram. O que me fez mudar a postura foi a crença de que todos, independentemente de seu histórico e comportamento, têm a capacidade e o direito de aprender e, por isso, devemos sempre esperar o melhor de cada um. Todo docente deve analisar cada caso, olhar para as dificuldades de convivência, pensar em estratégias para sanar os problemas e criar o melhor ambiente para a aprendizagem. Envolver os pais nesse processo ajuda. Deixo claro para eles que é essencial mostrar aos filhos como se importam com a vida escolar deles. O que ocorre na sala de aula é reflexo da Educação como um todo. Para discutir com colegas sobre como as políticas públicas se afastam ou se aproximam do que o docente precisa, me tornei monitor no Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Essa reflexão deveria se estender a todos nós, professores, os principais interessados, juntamente com os alunos, na melhoria da qualidade do ensino."

Leandro Pereira Matos, 26 anos, professor de História na EM União da Betânia, em Juiz de Fora, a 276 quilômetros de Belo Horizonte
O professor se torna agente da educação
Investir no estudante e discutir políticas públicas também é papel de quem leciona

1960 Começa a ser discutido um novo conceito de Educação baseado na valorização do saber da criança e do professor como mediador da aprendizagem.

1990 Nessa década, com a chegada à rede pública de milhões de alunos que estavam fora do sistema, o professor tem de rever sua concepção de ensino.

1996
Ao possibilitar os ciclos no Ensino Fundamental, a LDB dá aos professores a chance de atender aos que necessitam de um tempo maior para aprender.

2005
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) permite ao professor acompanhar o desempenho de sua escola e da rede em que leciona.

É preciso ensinar os alunos a usar a tecnologia com consciência

Ensinar os jovens a fazer o uso adequado das ferramentas digitais os torna competentes na comunicação coletiva

 

O conhecimento de novas tecnologias ainda encontra resistências na escola. Enquanto alguns educadores temem que o uso da internet, de softwares educativos e de plataformas de ensino a distância prejudique o processo de aprendizagem, outros negam a existência desses recursos didáticos por desconhecer suas potencialidades.

As tecnologias contemporâneas permitem a construção de leituras inovadoras do mundo e ampliam as possibilidades de articulação, construção e circulação da informação. Aprendemos com o filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951) que os limites da nossa linguagem denotam os limites do nosso mundo. Quanto maior a diversidade de ferramentas dominadas pelo aluno, maior será seu território de ação.

Hoje, presenciamos a articulação de movimentos sociais e da sociedade civil por meio de sites, redes sociais, blogs etc. Não é possível ignorar a quantidade e a qualidade de informações que circulam nos espaços virtuais. É fascinante a variedade de textos, imagens e vídeos existentes na web. Ensinar a criança e o adolescente a se apropriar dessas novas linguagens é a única maneira de torná-los competentes para a comunicação coletiva. Toda escola deveria assumir o compromisso ético de proporcionar aos alunos o uso adequado dessas ferramentas, dando, assim, subsídios para que sejam capazes de filtrar as informações disponíveis, produzir conteúdos e conseguir articulá-los de forma reflexiva.

O orientador educacional e os demais gestores podem contribuir ao auxiliar as equipes a investigar a internet não apenas como uma ferramenta para o conhecimento, mas como uma aprendizagem em si mesma. A linguagem da rede mundial tem uma estrutura própria, com signos e significados que precisam ser compreendidos. É comum as pessoas - inclusive os alunos - identificarem o espaço virtual como sendo de caráter privado e divulgarem informações particulares sobre si ou outros colegas. Ocorre, porém, que isso não é verdade e os problemas de convivência ficam superdimensionados - o cyberbullying é apenas um exemplo dessa prática inapropriada.

Realizar uma pesquisa sobre o uso da internet pelos estudantes pode fornecer pistas interessantes. Investigar, por exemplo, qual o tempo destinado às tecnologias, quais os sites e as redes sociais mais frequentados, a natureza dos jogos preferidos etc. Esse levantamento ajudará a mapear a intensidade e a qualidade da utilização dos recursos tecnológicos pelos alunos, fornecendo parâmetros úteis para a análise pela equipe docente.

Nesse ponto, as escolas deveriam estabelecer uma meta: buscar compreender, nas reuniões pedagógicas ou em outros espaços formativos, as estratégias didáticas para a aprendizagem das linguagens oriundas das novas tecnologias.

Para não cair em armadilhas, o importante é preservar, nos processos de ensino e aprendizagem, o sentido do conhecimento - ou seja, as preocupações e as indagações do aluno, da cultura e da sociedade. A escola que se empenha em inquietar o jovem, confrontando-o com questionamentos e conteúdos que o ajudam a entender o mundo em que vive, não deve temer a tecnologia, mas problematizá-la.
Catarina Iavelberg
É assessora psicoeducacional especializada em Psicologia da Educação.
 fonte:http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/orientador-educacional/preciso-ensinar-alunos-usar-tecnologia-consciencia-615029.shtml

sábado, 25 de maio de 2013

Transdisciplinaridade

                                   O que é Transdisciplinaridade? Por quê? Para quê?
          
Transdisciplinaridade é um nome bem grande para uma ideia complexa, mas não complicada.
A ideia básica da transdisciplinaridade é que na vida, a realidade não é fragmentada, dividida em disciplinas.
Por exemplo, você já viu alguma parte da sua vida onde a matemática mora? Onde só existem conteúdos da área de matemática???
Sim, a matemática está presente na hora em que compramos frutas na feira, mas ela não está sozinha lá. Está intimamente interligada às pessoas que fazem a feira, aos seus contextos sociais, às frutas e seus sabores, seus valores nutritivos, está ligada à forma particular dos feirantes se comunicarem, etc…
Ou seja, não é  possível, na vida real, separarmos a matemática de qualquer outra disciplina.
Assim podemos também pensar a respeito das demais disciplinas. A linguagem não existe se não comunica exatamente o que as outras disciplinas possuem de conteúdos ou os nossos sentimentos, pensamentos e impressões.
Na vida real as disciplinas nunca estão separadas, fragmentando a realidade. Por isso a vida é bela! Cheia de significados que atribuímos a cada momento, na interação com nosso ser interior, com as pessoas em geral, com o ambiente físico e a natureza.
Então, por que na Escola separamos tudo??? Muitos dizem: “Ora, para ser mais fácil ensinar!”
Mas então eu pergunto: “Mas por que aprendemos os saberes fragmentados se na prática precisamos utilizá-los na vida, onde nada está separado?”
Qual o sentido de tanta fragmentação? Sabe, as conseqüências do processo de hiper disciplinarização, propagado pelas estruturas escolares, são bastante visíveis na sociedade.
Se aprendemos conteúdos descontextualizados da vida, desligados de outros conteúdos de áreas diferentes do saber, acabamos por acreditar que a vida, para ser organizada, precisaria ser também fragmentada.
Mas, refletimos então: o mundo, a sociedade atual são exemplos de organização??? Não!!!
Ao contrário, parece-nos que a fragmentação excessiva nos leva a ter posturas de distanciamento para com os outros seres humanos e para com a natureza. O que seria decorrente dessa educação fragmentada.
Não é difícil percebermos exemplos reais dessa transposição da educação fragmentada para nossos modos de ser no mundo:
1-      Nos fragmentamos internamente. Nosso pensamento é uma coisa, nosso sentimento é outra e nossas ações são uma terceira. O ser humano, que deveria ser coerente, inteiro, íntegro, não é. Muitas vezes pensamos mas não agimos de acordo com o que pensamos. Outras vezes sentimos e não agimos de acordo com nossos sentimentos. Somos divididos por dentro. Deixamos de ser indivíduos, pois essa palavra quer dizer in-diviso, ou seja, o que não pode ser dividido.
2-      Nos separamos de nossos semelhantes. Nossa família humana é repleta de discriminações de todo tipo. Nos distanciamos das pessoas que convivemos diariamente e muitas vezes preferimos a companhia da televisão e do computador do que a companhia de nossos vizinhos ou colegas. Sempre olhamos para o nosso semelhante com desconfiança e isso faz com que nos distanciemos uns dos outros. Quantas vezes você já viu um pedestre mudando de calçada para evitar passar junto a um pedinte na rua? Evitamos o contato direto com as pessoas pobres, miseráveis ou mesmo com nossos vizinhos.
3-      Nos separamos da Natureza. Hoje em dia as pessoas das grandes cidades parecem que vivem em outro planeta, não na Terra. Raramente têm contato com as plantas, animais selvagens, com a terra molhada. As crianças dessas cidades tem medo de pisar no chão de terra, na areia. Não conhecem as frutas, mas tomam seus sucos industrializados, nunca viram uma vaca ou uma galinha. Pessoas criadas assim, quando se tornam adultos no mundo do mercado, não vêem nenhum problema em degradar o ambiente para gerar lucros para sua empresa. Essas pessoas nunca tiveram contato com a natureza, como poderiam aprender a respeitá-la e amá-la?
Como resultado de toda essa educação descontextualizada, acabamos por construir uma sociedade em crise. Hoje em dia temos mais conhecimento que nunca antes em toda a história da humanidade, mas ainda não sabemos como resolver problemas que nos atormentam desde os primórdios, como por exemplo, a fome e a miséria, ou como podemos prever e nos proteger de catástrofes naturais.
Para que tanto conhecimento fragmentado se não conseguimos colocá-lo em prática na vida???
Crescemos na criação de tecnologias antes inimagináveis, mas não sabemos evitar ou nos proteger de enchentes, secas, terremotos e tsunamis. Não sabemos evitar que pessoas morram de fome e de sede em todas as partes do mundo.
É de todo esse contexto que emerge a proposta Transdisciplinar em educação. Na busca por um mundo melhor, onde as pessoas, aprendendo na interação e não na fragmentação, possam ser mais íntegras e coerentes internamente, possam valorizar e respeitar o meio ambiente, nossa Terra, nossa casa, e que possam saber conviver com seus semelhantes, construindo de uma forma mais humana uma nova sociedade.
Convidamos você, professor(a), a juntar-se a esse movimento pela educação transdisciplinar. As futuras gerações irão agradecer!!!
Um grande abraço!

terça-feira, 21 de maio de 2013

Lixo ,Coletas e Reciclagem


Os sete saberes necessários para educação do futuro / Edgar Morin




Educação como desenvolvimento global


O funcionamento de uma organização escolar é fruto de um compromisso entre a estrutura formal e as interações entre grupos com interesses distintos. Abrange três grandes áreas: a estrutura física da escola, a estrutura administrativa da escola, a estrutura social da escola.
O avanço científico tem aumentado as indagações sobre o universo, e a cada inovação tecnológica significativa, muda a visão que o homem tem de si mesmo. Com esta visão a Conferência Internacional de Educação em Genebra (2001) definiu as novas Diretrizes Educacionais como: aprender a aprender, aprender a ser, aprender a fazer, aprender a viver em comunidade (conviver).
A visão e a estratégia da educação podem e devem se constituir de bases de apoio para a formação do indivíduo cidadão, aliando a teoria à prática do fazer, através de conhecimentos, habilidades e atitudes comportamentais.
Assim, as instituições de ensino consideraram que a conexão com o conteúdo programático é necessária, entenderam que incentivar o professor é importante, compreenderam que inovar nas atividades pedagógicas em interação com os alunos é primordial. Por isso, é necessário fazer uma análise das várias dimensões do real, questionar para que e para quem se destina o conhecimento e comprometer-se com a prática docente.
Hargreaves (2000) afirma que face às mudanças rápidas da sociedade contemporânea, a profissão do educador encontra-se em um momento decisivo especialmente tendo em vista a dupla dimensão do seu trabalho: a intelectual e a afetiva.
Um dos pensamentos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é desvincular a educação escolar como exclusiva da sala de aula, atribuindo novas direções, que privilegiam uma cultura voltada para a autonomia do aluno, a transversalidade dos conteúdos, a alteridade, a cidadania, a comunicabilidade, e a integralidade do ser humano. A partir daí, possibilita-se ao aluno o desenvolvimento das capacidades e habilidades intelectuais com base no conhecimento científico, assim como no pensamento crítico e nas técnicas de trabalho intelectual. Cada aluno reage de modo especial à experiência de aprendizagem. Cabe à ação educativa aproveitar essa individualização já existente para que as experiências individuais transformem-se em experiências formadoras, com abordagem construtivista, voltada para interação.
Acredita-se que um dos maiores desafios para os sistemas educativos, e para as escolas, é o enfrentamento da questão da diversidade. Não é tarefa simples permitir o respeito à diversidade (em todas as suas significações e dimensões) e a execução de tarefas educacionais diferenciadas e, ao mesmo tempo, garantir uma identidade das práticas educacionais mais abrangentes. Pois, devido ao próprio contexto histórico, o processo educacional ressaltou o conhecimento lógico-matemático e o lingüístico, deixando de lado outras formas de conhecimento.
Educação é um processo de desenvolvimento global, integrando os vários níveis de conhecimento e de expressão: sensorial, intuitivo, afetivo, racional e transcendental. No conhecimento integrado devemos educar segundo uma visão de totalidade, para a abertura de novas experiências, novas maneiras de ser, novas idéias, para a autonomia, para a autenticidade, respeitando os diversos pontos de partida de cada educando.
Uma das funções da Educação seria a de desenvolver o capital intelectual dos estudantes, especialmente nos seguintes eixos: a criatividade, a flexibilidade, a capacidade de resolução de problemas, a inteligência coletiva, o aperfeiçoamento contínuo. E outra a de desenvolver o seu capital social,através da capacidade de construir relações e de contribuir para os recursos humanos da sociedade em geral.
Ref: Os quatro pilares da educação - Jorge Werthein.
Por Amélia Hamze
Profª. da UNIFEB/CETEC
ISEB-Barretos
ahamze@uol.com.br
Colunista Brasil Escola

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Currículo oculto


Como agir em relação aos conteúdos que são ensinados e aprendidos de forma não explícita na escola

A orientação educacional tem o compromisso de auxiliar a escola em sua função socializadora, criando ou reformulando ações pedagógico-educacionais e favorecendo a articulação de valores que resultem em atitudes éticas no âmbito do convívio social. Ainda que a instituição não conte com um cargo específico para essa função, suas atribuições precisam ser realizadas no dia a dia.

Como esse campo se ocupa em desenvolver estratégias para a aprendizagem dos conteúdos atitudinais, um dos papéis mais importantes do orientador é gerenciar o currículo oculto. A maior parte dos problemas tradicionalmente enviados para a sala dele (exclusão de sala de aula, furto, briga, bullying, mau uso dos espaços coletivos, cola em provas, plágio de trabalho, atitude de desrespeito ao professor) está vinculada a esses "conteúdos" que são ensinados e aprendidos de forma não explícita nas relações interpessoais que se constroem na escola.

Trata-se de um equívoco acreditar que esse educador deva se ocupar exclusivamente dos alunos (em especial os tidos como indisciplinados e os que têm baixo rendimento) e de suas famílias. Infelizmente, ainda existem escolas que trabalham nessa perspectiva antiquada e "psicologizante", que posiciona o orientador educacional como alguém destinado a abafar (e não resolver) os conf litos na base da mediação com estudantes, pais e professores. Esse modo de atuar, eticamente ineficaz, faz com que esse profissional muitas vezes se sinta como um bombeiro, que todos os dias apaga incêndios e deixa brasas pelo caminho. Fechado numa sala geralmente distante dos espaços onde o currículo oculto se manifesta, ele acaba brincando de investigador de polícia, juiz ou psicólogo clínico. Alguns ficam constrangidos por terem de atuar assim. Mas há os que exercitam com satisfação esses pequenos poderes.

Uma abordagem contemporânea do trabalho compreende outras competências para o orientador educacional. Ele deve ter certo distanciamento da demanda aparente (queixa) para promover uma escuta analítica que o leve a identificar os agentes, os valores e os conf litos nela envolvidos. Também está sob sua responsabilidade desencadear ações que ampliem o diálogo e a compreensão entre os protagonistas da comunidade, sem jamais negar a natureza dos conf litos. O exercício dessas competências só é possível quando o orientador educacional deixa a rotina de sua sala e se insere em outros espaços para procurar e explicitar os elementos do currículo oculto. As ações serão eficazes quando contribuírem para melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem, o que requer a interlocução com a equipe docente e o entendimento do sujeito como um ser histórico, crítico e social. Embora o orientador educacional não seja um especialista nas didáticas - essa é a especialidade do coordenador pedagógico -, ele deve ser capaz de identificar se a ação docente está de acordo com os princípios que norteiam o projeto pedagógico da escola.

É imprescindível sua participação nos momentos de formação dos professores, desenvolvendo estratégias para problematizar o convívio e as relações entre as pessoas. Trata-se de promover coletivamente o abandono do discurso pessimista e paralisador do fracasso da escola e do aluno e debruçar-se sobre os obstáculos que precisam ser superados. Existem diversos aspectos que compõem uma boa parceria entre o educacional e o pedagógico. A seguir, alguns exemplos:

• Compartilhar as observações do cotidiano escolar que ajudem a descobrir os aspectos do currículo oculto.

• Problematizar temas relacionados à qualidade do convívio, tais como valores, uso do espaço coletivo, furtos, violência, questões de gênero, preconceito etc.

• Refletir sobre a formação ética do sujeito social por meio da análise dos temas transversais nas diversas disciplinas e da seleção dos temas sociais complexos e o momento mais apropriado para introduzi- los em situações de aprendizagem.

• Investigar a escola sob novos paradigmas, entrando em contato com a produção de teóricos da ciência, da sociologia e da psicologia da Educação.

• Compreender as características da diversidade da família moderna e seus impactos na Educação.

• Informar-se sobre as principais características dos alunos com necessidades educativas especiais e como garantir a socialização e a aprendizagem.

• Construir acordos educativos coletivos que comuniquem o resultado da reflexão da instituição sobre as práticas e sirvam de parâmetros para futuras ações.

A integração do educacional com o pedagógico só funciona nas escolas que acreditam e apostam na troca de experiências e saberes, com o apoio institucional necessário e a adesão de gestores e docentes que não temem buscar oportunidades para propiciar o desenvolvimento de suas competências profissionais.
CATARINA IAVELBERG é assessora psicoeducacional especializada em Psicologia da Educação.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
Da Relação com o Saber: Elementos para Uma Teoria
, Bernard Charlot, 96 págs., Ed. Artmed, tel. 08000-703-3444, 38 reais
Escola e Cidadania, Philippe Perrenoud, 184 págs., Ed. Artmed, 44 reais
Orientação Educacional: Conflito de Paradigmas e Alternativas para a Escola, Mirian P. S. Zippin Grinspun, 216 págs., Ed. Cortez, tel. (011) 3611-9616, 29 reais

Quem é o e que faz o orientador educacional

Esse é o profissional que se preocupa com a formação pessoal de cada estudante

Na instituição escolar, o orientador educacional é um dos profissionais da equipe de gestão. Ele trabalha diretamente com os alunos, ajudando-os em seu desenvolvimento pessoal; em parceria com os professores, para compreender o comportamento dos estudantes e agir de maneira adequada em relação a eles; com a escola, na organização e realização da proposta pedagógica; e com a comunidade, orientando, ouvindo e dialogando com pais e responsáveis.
Apesar da remuneração semelhante, professores e orientadores têm diferenças marcantes de atuação. "O profissional de sala de aula está voltado para o processo de ensino-aprendizagem na especificidade de sua área de conhecimento, como Geografia ou Matemática", define Mírian Paura, da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. "Já o orientador não tem currículo a seguir. Seu compromisso é com a formação permanente no que diz respeito a valores, atitudes, emoções e sentimentos, sempre discutindo, analisando e criticando."

Embora esse seja um papel fundamental, muitas escolas não têm mais esse profissional na equipe, o que não significa que não exista alguém desempenhando as mesmas funções. Para Clice Capelossi Haddad, orientadora educacional da Escola da Vila, em São Paulo, "qualquer educador pode ajudar o aluno em suas questões pessoais". O que não deve ser confundido com as funções do psicólogo escolar, que tem uma dimensão terapêutica de atendimento. O orientador educacional lida mais com assuntos que dizem respeito a escolhas, relacionamento com colegas, vivências familiares.

Se você se interessa em seguir essa carreira, saiba que é preciso ter curso superior de Pedagogia ou pós-graduação em Orientação Educacional.

O que ele faz
Contribui para o desenvolvimento pessoal do aluno.

Ajuda a escola a organizar e realizar a proposta pedagógica.

Trabalha em parceria com o professor para compreender o comportamento dos alunos e agir de maneira adequada em relação a eles.

Ouve, dialoga e dá orientações.

Quer saber mais?
Escola da Vila, Unidade Butantã, R. Barroso Neto, 91, CEP 05595-010, São Paulo, SP, tel. (0_ _11) 3726-3578

BIBLIOGRAFIA

Ação Integrada - Administração, Supervisão e Orientação Educacional
, Heloísa Lück, 66 págs., Ed. Vozes, tel. (0_ _24) 2233-9000, r. 9042 e 9029, 8,90 reais

A Orientação Educacional - Conflito de Paradigmas e Alternativas para a Escola, Mírian Paura S. Zippin Grinspun, 176 págs., Ed. Cortez, tel. (0_ _11) 3864-0111, 18 reais